quinta-feira, 31 de julho de 2008

Cama.


Cada músculo do meu corpo exigido
nessa empreitada clama:
aconchego, repouso, cama...


segunda-feira, 28 de julho de 2008

Fullgás

Versos de uma canção popular podem nos acompanhar por toda vida. Meus ouvidos foram seduzidos por Fullgás, na voz rouca de Marina Lima, na adolescência, canto até hoje a música que tem letra do poeta Antonio Cícero, seu irmão.
A princípio pode parecer contraditório, pois temo a fugacidade da melhores coisas da vida. Principalmente da própria vida.
Mas não é esse o sentido que os compositores dão a "Fullgás”.
É só observar o título da música. Um trocadilho traz a primeira sílaba da palavra com dois eles: full, que em inglês significa completo, cheio, total. Subvertendo toda compreensão aparente.
Para quem não lembra a música começa assim:

“Meu mundo você é quem faz”.
Música, letra e dança.
Tudo em você é fullgás
Tudo você é quem lança
Lança mais e mais... ““.

Adoro a música e seus versos. Cantava sem dar muita atenção à letra, depois fui aos poucos ficando mais atenta ao que ouvia e repetia.
A composição tem versos sem complexidade, mas não bobos. Traz um romantismo pop e gostoso, porém um dos seus versos resume uma dos meus mais sagrados desejos; o desejo que expressa a minha carência e a qualidade do meu amor. O desejo que me move. O desejo de amar e ser amada. Expressa ainda a fantasia de que o amor pode tudo.
Não sei se um poeta como Antonio Cícero levou tão a sério quando escreveu, como eu ao ouvir ou cantar o meu verso preferido, todavia é sempre com esperança que repito “você me abre os seus braços e a gente faz um país".

sábado, 26 de julho de 2008

O Amor e o Tempo.

Todo tempo tenho
para amar
E gasto todo tempo
amando
Mesmo quando ao avesso
eu amo.
Até com o tempo fechado
Amo.
Certa de que no próximo alvorecer
Amarei.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Última Romântica?


É Marília, talvez eu seja uma das últimas românticas. A Lulu Santos de saias do Recanto da Letras. Se bem que vejo muitas outras por aqui.
Eu não quero brigar pelo título, mas aviso que obtive do especialista o seguinte prognóstico: “Evelyne, seu caso é irrecuperável". Bem melhor do que outras sentenças médicas, mas ainda preocupante. Pelo menos não se morre disso, apesar de comermos o pão que o diabo amassou às vezes.
O mais engraçado é que demorei a expressar esse romantismo excessivo por muito tempo. Eu vivia romanticamente e nem me dava conta disso.
Na adolescência, por exemplo, achava que era a tigresa de unhas negras e íris cor de mel de Caetano, quando na verdade era quase uma Mulher de Atenas. Teimosa, rebelde, mas também meiguinha, rs. A sedutora escondia a fragilidade da menina que viveu um romance duradouro e monogâmico, dos 16 aos 35 anos.
Quando saí do casulo, fui exercendo outras mulheres em mim e sem mais nem menos virei essa romântica incurável. Chorando os amores que iam e os transformando em amizades quando a dor passava.
Estou deixando escoar. Vou deixar essa personagem de Jane Austen com fortes traços das mulheres de Almodóvar sair de mim até estancar.
O sinal verde virá. Com sua torcida e a de Zélia tenho esperança. Também vou mirar nos escritos de vocês duas, das Marias: Paula e Olímpia, das Ângelas, da Malu, da Mônica, da Milla, da Rosa e dos muitos poetas que admiro e sei que fazem parte da torcida.
Sem esquecer do Eremita, do The Rain Song, de Rai, do Manuel, do Leo, do Antonio Ladeira, do Silvanio, do José Lindomar e de tantos queridos que posso está esquecendo, pois nós românticos moramos na lua.
Ak, meu Deus esqueci da Sandra de Recife que escreve muito. E do Cleber, de quem acabei de ler um texto bárbaro.Nena, eu leio todas as suas crônicas, viu?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Abro-me.


ABRO PORTAS E JANELAS
PARA A FELICIDADE
ENTRAR

ABRO OLHOS E CORAÇÃO
PARA VER A ALEGRIA
CHEGAR.

ABRO MEUS LÁBIOS
PARA DO SEU GOSTO
PROVAR.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Cantos de Sedução: sereias e suas versões masculinas.




Nunca ouvi cantos de sereias. Há quem diga que elas encantam os homens que as escutam. A Odisséia, de Homero, já falava nelas. Perigosas mulheres-peixes, ou mulheres-pássaros. De acordo com a mitologia nórdica ou grega.

No Brasil, a Iara, que mora em nossas águas doces possuem poderes mágicos e é melhor que os mais afoitos não queiram ver sua beleza. É o que diz nosso folclore.

Ouço cantos diversos.. Vozes mais graves os entoam. Alguns, emitidos por pássaros sedutores, não passam do meu ego. Outros, evidentemente, me tocam. Mexem com meu músculo cardíaco, meus nervos, meus sentidos.

Uns cantos elaborados me inebriam e ficam nisso. Alguns seres cantam, porque cantar faz parte da natureza deles. Esses cantam para muitas e preciso tapar meus ouvidos para não ser afundadas em seus mares.

Tem quem cante apenas para se certificar de seu poder de sedução e sem ligar para quem os escutam. Perigosos, mas também inseguros. Melhor fugir dessa rede, que não sou peixe.

Tenho ouvido cantos que me inquietam, me jogam para lá e para cá, maltratando.
Também ouço cantos que me confortam e que me trazem alegria. Gosto dos últimos, que fazem meu espírito flutuar em águas deliciosas.

domingo, 20 de julho de 2008

Carícia na Madrugada.




A madrugada acaricia



A pele da mulher sensível



Com seu hálito viril.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Carta a Janine.





Da Série Melhores Amigos


Jane, querida

A greve nos Correios lembrou-me os tempos pré-históricos, quando trocávamos sinais de fumaça, via Embratel ou através de cartas e mais cartas.
Você voltara a Brasília, nossas vidas tomavam outro rumo e sua amiga sensata já não sabia onde pisava.
Quando nos conhecemos, no Campus da UFRN, você estava chegando a Natal e era quase uma menina, mas já assumia responsabilidades de gente grande.
Eu, uma jovem senhora casada e mãe, usava roupas bem menos adequadas a uma quase advogada (nunca deixei de ser “quase’”). Você se vestia como profissional.
Entendemos-nos de cara. Na época a diferença de idade era significativa, pois você ainda saía da adolescência, eu tinha uns 25, mas sua inteligência e seu equilíbrio lhe davam um ar de maturidade.
Não se preocupe, você não está mais velha. Ninguém com esse senso de humor envelhece. Aliás, você está mais nova e eu também, rs.
Foi um dia desses. Eu lhe mostrava na sala do apartamento as fotos do terceiro aniversário de Silvinha e ela lhe "ensinava" que o que você chamava de balões eram bolas de encher.
Vinha fez 22 dois e continua linda. Hoje, além de mãe sou tia coruja desse menino astro que você e Armando fizeram tão bem.
Menina, será que existem filhos mais lindos que os nossos? Claro que incluo os de Verusckita nessa lista, além dos meus sobrinhos e dos seus.
Eles dão show, mas Vítor, aos cinco anos foi o único que cantou para uma platéia enorme junto com Alceu Valença. E "bombou”, segundo fontes seguras.
George, seu irmão, disse ter invejado o sucesso dele com as mulheres, depois que apareceu no telão cantando Xote das Meninas.
Jane, você fica sem graça com elogios. Pois aprenda a recebê-los. Você merece muitos. Não somente por ser mais uma irmã que tenho, mas por brilhar tanto que sua luz me ilumina daí sempre que preciso tomar uma decisão importante ou passo por momentos dificeis.
Mudamos os cursos de nossas vidas. Mudamos de endereço. Mudamos de estado civil. Porém não mudou o meu carinho, minha admiração e meu orgulho de ser sua amiga.
Ninguém escreve como você e apesar de gostar de cada livro que você me deu (como me fizeram bem!), ainda prefiro as dedicatórias ao conteúdo. Nelas me sinto especial, pois sou vista com seu coração e descrita com sua mente mágica.
Minha amiga, há muitos anos, antes que eu pensasse em escrever mais que cartas, quando vivia em meio a um turbilhão de emoções, lhe prometi um capítulo no livro de minha vida, em razão da força que você me transmitia, do não julgamento e da paciência com a qual você me ouvia nos interurbanos a qualquer hora do dia ou da noite.
Não pretendo escrever uma autobiografia, pois não sou celebridade, nem vivi nada que outras pessoas não tenham vivido. Mas esse texto, denominado "carta "é um começo do muito que tenho a falar sobre Nine-Sol.
Beijos amorosos para você, para Armando (com sua permissão, claro) e para "o menino mais lindo da cidade", que Vítor com tanta sabedoria já descobriu ser.

Veca

P.S. Desculpe pelas mensagens de textos loucas que lhe respondo. É que passei dos quarenta (rs)e preciso de óculos , que sempre estão longe quando vc me envia as suas.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

ALENTO.

EXAUSTO, LENTO
MEU CORPO PEDE UM SORRISO
UMA REDE, UM ALENTO.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Eduardo Mãos de Tesoura e Coração de Mel.




Da série melhores amigos.

Esse texto não é uma resenha do filme com título homônimo. Simplesmente decidi que vou presentear cada um dos meus amigos queridos com um texto e esse é para Dú. Tenho poucos desses que me conhecem pelo avesso e gostam de mim como sou. O meu Eduardo, não é o protagonista do filme, mas é lindo como Johnny Depp. Ele ganhou esse título, depois de me podar, quando eu estava em um momento de euforia, falando pelos cotovelos em um café. Edu, você me poda, sim. Quando vôo em meus sonhos românticos é você quem me corta as asas e me traz de volta. Nessas horas fico retrucando tudo que você me diz, e que na maioria das vezes tem razão. Mas também é você, meu irmão, que me escuta, me incentiva e que me abraça com seu carinho. Você que é inteligente, prudente, excelente profissional, vaidoso, também é espiritualizado. Entende a vida e a aceita mais do que eu, que sou mais velha que você. E como eu apreendo de suas idéias, ainda que não concorde com todas. Teimosa, nunca me deixei arrastar por você às academias de ginástica para onde você corre todas as noites e de onde eu corro todos os dias. Mas já fui ao seu templo, quando precisei me encontrar com Jesus e seus anjos, o que lhe agradeço. Do sagrado ao profano, Dú me faz beber e dar shows a públicos desconhecidos (na verdade uns dois e três apenas) e depois morremos de rir juntos. Meu amigo é escritor e me confiou seu livro lindo escrito aos 18 anos. Guardo-o como um tesouro e cumpro a promessa de não mostrar a ninguém até que você faça a revisão. Conheço seu mundo. Já lhe fiz pagar micos que você suportou, escondendo o constrangimento no respeito e no bom- humor, quando em uma fase de desilusão profunda, chorei no café mais concorrido, do maior shopping da cidade. Eu me desmanchava e você só dizia: ”- Veca, estão pensando que eu estou lhe dando um fora”. Eu imagino como você se sentia, mas não me podou dessa vez, ao contrário, foi solidário na minha dor. O mel é bem mais freqüente em você, com quem me abro sem medo de ser criticada. E falando em café, devo-lhe muitos. Já vou começar comprar os euros, pois o trato é pagar todos em Paris. E pretendo cumprir.

Evelyne Furtado em 13 de julho de 2008.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Em Meio à Mudança.


Ela está de mudança. Precisamente no intervalo entre o que fica e o que leva consigo.
Cada objeto é avaliado antes de ser embalado. O critério resume-se entre o que vai lhe servir na próxima moradia e o que não lhe servirá mais. Alguns são várias vezes analisados. Não há certeza se ainda irá precisar. Esses terão a avaliação adiada. Uns decididamente passarão a outros donos ou donas. Talvez tenham como destino o lixo. Não lhe cabem mais. Ela gosta quando alcança a sensação de desapego. Só conservará o que lhe for imprescindível no futuro próximo. As caixas vão sendo preenchidas e empilhadas. Ela sente dificuldade em andar entre elas.Seus sentimentos estão igualmente confusos. O coração aperta antevendo a hora da despedida. A vida aponta novo horizonte. Entre o passado e o futuro, o presente requer atenção apurada.Levará algumas saudades, muitas lembranças boas e algumas desilusões. Levará, principalmente, desejos e esperanças para seu novo endereço.

domingo, 13 de julho de 2008

Amizade, fé e o que não sei explicar...



Da Série Melhores Amigos

Noite muito fria em Buenos Aires. Andavamos pela Recoleta. Há algumas horas eu havia conhecido pessoalmente Laura, amiga virtual de algum tempo. Professora e tradutora de português. Apaixonada pelo Brasil e pela língua portuguesa.
Durante esse tempo trocamos e-mails, idéias, risos e conforto. Laurita tem filhas mais ou menos da idade da minha. Somos da mesma geração e ela foi muitas vezes minha confidente.
O encontro no Patio Bulrich, um shopping lindo, foi engraçado. Olhamos uma para outra tentando nos reconhecer. Depois do primeiro momento já éramos as velhas amigas da internet. José, marido de minha amiga estava gripado e não pudera ir ao encontro.
Saímos de onde estávamos para ir ao Village Recoleta. Passamos em frente ao cemitério onde está o corpo de Evita e que eu me recusara a entrar durante o dia. Por ironia passava a pé e de noite.
Falávamos de Deus. Uma vivendo uma fase de dúvida com Ele, a outra explicando como precisava Dele, apesar de não ser uma religiosa convencional. De repente a Igreja Del Pilar estava a nossa frente. Eu havia achado linda quando passara por lá durante o dia.
Laura perguntou se eu queria entrar. Concordei, gosto de igrejas vazias. Abrimos a porta e entramos em sua nave. Havia pouca luz, apenas o altar estava iluminado. A igreja quase vazia. Em seus bancos apenas alguns jovens, senhores e senhoras. Pouca gente, mesmo.
Em coro, algo como uma ladainha era ouvido por nós duas. Estávamos em pé, lado a lado. Duas mulheres com histórias e culturas diferentes, em momentos diferentes da vida, com posições distintas em relação ao Dono da casa.
Nunca saberemos quem era o DJ naquela noite, mas as vozes foram caladas e a Ave Maria de Schubert tomou conta da igreja e dos nossos ouvidos. Uma emoção única. Impossível de descrever. Um presente para Laurita e para mim. Disso eu não tenho a menor dúvida. Fomos contempladas com uma das faces mais bonita da religião católica. O canto a Nossa Senhora naquela igrejinha linda.
Ajoelhei e agradeci. Pedi também, pois a ela eu não tenho o menor constrangimento em pedir.
Sei que não consegui transmitir o que senti, mas tentei registrar um instante de fé, de amizade e de misticismo.
Depois, nos juntamos a minha irmã e ao meu cunhado. Rimos, conversamos, comemos e brindamos até que o frio e o sono nos mandassem, nós os brasileiros, para o hotel e Laura de volta aos seus.
A amizade foi reforçada, abençoada. A magia do momento jamais será esquecida. Que Deus nos proteja, a nós e aos que amamos Laurita.

Evelyne Furtado
Publicado no Recanto das Letras em 13/07/2008
Código do texto: T1078447

sábado, 12 de julho de 2008

DEIXA O AMOR SE MOSTRAR.

Deita a cabeça em meu colo, que hoje sou
tua mãe
tua irmã
tua amante
tua amiga

Deixa eu te abraçar, que hoje quero
teu calor
teu sorriso
teu conforto
teu abrigo.

Deixa eu te beijar, que hoje vivo
desse amor
dessa saudade
dessa ardência
dessa vontade.

Deixa a vida girar
Deixa a onda lavar
Deica o amor se mostrar.
Deixa ver como fica.

Deita aqui comigo,
deita....

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Prece ao Vento em Noite Fria em Natal.



Nesta noite sinto frio. Natal, a cidade do sol, esfriou. Não se espantem. Não é o fim dos tempos. Acabei de verificar a temperatura: 23º com sensação térmica de 20º. Frio? Sim, 23 º aqui é frio. Taí, Dona Zélia Maria Freire que não vai me deixar mentir.
É que o sol não nos abandona em nenhuma estação. Ele, o astro, deixa de comparecer na Europa por dias seguidos. No sul e no sudeste do Brasil, bem como nos paises vizinhos, ele até ilumina no inverno, mas não abranda o frio. É dispensável falar na Sibéria, no Alasca, ou nos pólos.
Em Natal o sol dá o ar de sua graça o ano inteiro, nem que seja para marcar presença por algumas horas em dias de temporal. Agora chove e sinto um friozinho bom, daquele que nem precisa de cobertor, só convida para a cama, com um bom livro, na falta de outro corpo para nos aquecer.
Se bem que não acho que o frio estimule a sexualidade. Nesse aspecto o calor é bem mais eficiente, mas não posso negar o aquecimento do sangue que corre em nossas veias com a aproximação da respiração, do contato, do abraço. Daí para frente a estória é outra.
Porém, eu estava falando que esse nosso frio nos tira da rua, nos impede de abrir janelas e dá preguiça. É que temos muito vento por aqui. Um vento que vem do mar, escala as dunas que recortam a cidade e avança casa adentro como se fosse propriedade dele.

_ Entre, senhor vento, mas só um pouquinho, que não quero esfriar meu coração e é por isso mesmo que só deixo uma frestinha da janela aberta. E tem mais: seria muito bom que o senhor nos visitasse com mais freqüência a partir de dezembro, quando se muda para as praias e nos deixa torrando na cidade.

Pronto, falei sobre esse climazinho gostoso, que é café pequeno para quem tem invernos congelantes, mas que me dá preguiça e vontade de tomar um vinho gostoso com você.



"Vento que balança as folhas do coqueiro , vento que encrespa as
Ondas do mar , vento que assanha os cabelos da morena e traz
Noticias de lá , vento que assobia no telhado , chamando a lua pra
Espiar , vento que na beira lá da praia escutava o meu amor cantar
Hoje estou sozinho e tu também , triste me lembrando do meu bem
Vento diga por favor a onde se escondeu o meu amor..."


"Prece ao Vento" de Gilvan Franklin e Fernando Luiz da Câmara Cascudo.


Evelyne Furtado
Publicado no Recanto das Letras em 08/07/2008
Código do texto: T1071539

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mais Saudade.

em meio a mãos
olhos
cabelos
gestos
sonhos
palavras
corpo e alma
bate forte
SAUDADE

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Proteção Virtual.




Manoela cansou do seu interior. Espreguiçou-se. Respirou fundo e com um sorriso saiu para a vida. Tinha algumas coisas para fazer. Foi ao banco fazer pagamentos e enfrentou filas. Supermercado em dia de promoção, muita gente e mais filas. Almoçou com amigos, conversou e riu. Durou pouco tempo. No carro sentiu saudade ao ouvir uma música que lembrou alguém. No sinal fechado, depois de muita luta com a bolsa, encontrou o celular que berrava igual a um bebê. Sôfrega atendeu alguém do trabalho que queria um serviço "para ontem". As buzinas a alertaram. Estava atrapalhando o trânsito. Mudou o rumo e correu para a exigência do dia anterior. De volta para casa um tráfego infernal. Ao chegar, comeu sua dieta sem graça. Tomou um banho relaxante e se reencontrou consigo própria. Com uma gostosa camisolinha, acomodou-se para ver o noticiário da TV e ler alguns jornais apinhados que não lia há alguns dias. Meu Deus! Estavam jogando crianças pelas janelas dos edifícios. Outras estavam sendo mortas por policiais. Traficantes e o Estado trocavam tiros. A Amazônia corria perigo. Grande parte dos políticos formava quadrilhas e não eram de São João. A natureza também se rebelava em terremotos, com muitos mortos. Foi quando uma bala perdida a atingiu. Manoela sentiu o projétil penetrando seu peito, mas a ferida não foi fatal. Deu tempo de desligar a TV, jogar os jornais na área de serviços. Preparou um lanchinho. Releu cartas antigas. Chorou de saudade. Sentou diante do monitor e se deixou levar por palavras, promessas e lindas estórias de amor. Escapara naquele dia. Agora se sentia protegida no seu mundo de ilusões.

Evelyne Furtado.
07 de julho de 2008.

sábado, 5 de julho de 2008

Volver a los 17.

Volto aos dezessete
começo da vida adulta
no começo da madrugada
Volto aos instantes de beleza que não se acabam
Tenhamos trinta, quarenta, cinqüenta, setenta...
...quem sabe?
Com amigos sinceros
Voltarei a ouvir Milton e Mercedez
Como aos dezessete ouvi.



"Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo."

Trecho o poema de Violeta Parra, entoado pelas vozes de Mílton Nascimento e Mercedez Sosa

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Quem sabe germinem as flores que plantei?




Acordo para a vida com portas se fechando em meu rosto. Enquanto a minha ingenuidade espera a chegada do rapaz da floricultura, a vida envia um telegrama com uma palavra apenas: " não".

O que eu faço com tantos "nãos" vida a fora? Guardá-los, jamais. Aprender com eles, talvez.

Como diz um grande amigo: um não, muitas vezes significa um "sim" da vida que ainda não compreendemos. Prefiro essa versão.

As flores eu mesma posso colher. Já recebi muitas e seus perfumes ainda fazem parte de mim. Meus sentidos já experimentaram intensos sabores e que venham mais. Meus amores já me fizeram chorar, mas também me deram muitas alegrias.

A liberdade que sempre desejei, vem com momentos de profunda solidão. Porém, já fui solitariamente triste sem liberdade.

A sensibilidade tem me acompanhado sempre e sou honesta com meus sentimentos. Assim vou abrindo novas portas e plantando mudinhas por onde passo.

Quem sabe encontro o que procuro em uma dessas portas?
Quem sabe germinem as flores que plantei?



"Drão o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão nossa semeadura"


Gilberto Gil.