domingo, 13 de julho de 2008

Amizade, fé e o que não sei explicar...



Da Série Melhores Amigos

Noite muito fria em Buenos Aires. Andavamos pela Recoleta. Há algumas horas eu havia conhecido pessoalmente Laura, amiga virtual de algum tempo. Professora e tradutora de português. Apaixonada pelo Brasil e pela língua portuguesa.
Durante esse tempo trocamos e-mails, idéias, risos e conforto. Laurita tem filhas mais ou menos da idade da minha. Somos da mesma geração e ela foi muitas vezes minha confidente.
O encontro no Patio Bulrich, um shopping lindo, foi engraçado. Olhamos uma para outra tentando nos reconhecer. Depois do primeiro momento já éramos as velhas amigas da internet. José, marido de minha amiga estava gripado e não pudera ir ao encontro.
Saímos de onde estávamos para ir ao Village Recoleta. Passamos em frente ao cemitério onde está o corpo de Evita e que eu me recusara a entrar durante o dia. Por ironia passava a pé e de noite.
Falávamos de Deus. Uma vivendo uma fase de dúvida com Ele, a outra explicando como precisava Dele, apesar de não ser uma religiosa convencional. De repente a Igreja Del Pilar estava a nossa frente. Eu havia achado linda quando passara por lá durante o dia.
Laura perguntou se eu queria entrar. Concordei, gosto de igrejas vazias. Abrimos a porta e entramos em sua nave. Havia pouca luz, apenas o altar estava iluminado. A igreja quase vazia. Em seus bancos apenas alguns jovens, senhores e senhoras. Pouca gente, mesmo.
Em coro, algo como uma ladainha era ouvido por nós duas. Estávamos em pé, lado a lado. Duas mulheres com histórias e culturas diferentes, em momentos diferentes da vida, com posições distintas em relação ao Dono da casa.
Nunca saberemos quem era o DJ naquela noite, mas as vozes foram caladas e a Ave Maria de Schubert tomou conta da igreja e dos nossos ouvidos. Uma emoção única. Impossível de descrever. Um presente para Laurita e para mim. Disso eu não tenho a menor dúvida. Fomos contempladas com uma das faces mais bonita da religião católica. O canto a Nossa Senhora naquela igrejinha linda.
Ajoelhei e agradeci. Pedi também, pois a ela eu não tenho o menor constrangimento em pedir.
Sei que não consegui transmitir o que senti, mas tentei registrar um instante de fé, de amizade e de misticismo.
Depois, nos juntamos a minha irmã e ao meu cunhado. Rimos, conversamos, comemos e brindamos até que o frio e o sono nos mandassem, nós os brasileiros, para o hotel e Laura de volta aos seus.
A amizade foi reforçada, abençoada. A magia do momento jamais será esquecida. Que Deus nos proteja, a nós e aos que amamos Laurita.

Evelyne Furtado
Publicado no Recanto das Letras em 13/07/2008
Código do texto: T1078447

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