segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O que é respeito?


Há algum tempo sugeri uma atitude respeitadora a um amigo que retrucou me pedindo uma definição de respeito.
Eu não tinha a menor dúvida sobre o que é agir com respeito, mas diante da pergunta provocativa fiquei aflita na busca das palavras certas para uma definição.
Ele estava usando um artifício socrático para me confundir e de certa forma conseguiu, pois não me ocorreu um conceito pronto e na hora nem mesmo lembrei de citar um pensador que falasse por mim.
Sem querer dar mostras de total ignorância listei exemplos básicos de comportamentos respeitosos e usei algumas metáforas. Porém, restou-me uma sensação de que não tinha respondido a contento.
Recentemente, na sala de aula, um professor me pediu para conceituar respeito. De certa maneira era como se eu tivesse experimentando um déjà vu ou tendo uma segunda chance.
Diante da turma me senti na obrigação de dar uma resposta inequívoca.Sem tempo para pensar proferi sinônimos e outras palavras associadas ao tema tais como consideração, aceitação, admiração, tolerância e cuidado. Não falei em amor embora associar amor e respeito pareça-me inevitável.
Ainda não tenho um conceito definitivo sobre o respeito, porém estou cada vez mais convicta de que precisamos agir com zelo e quase reverência diante de valores, sentimentos, crenças, limites,virtudes e fragilidades próprias e do outro. Por enquanto é essa a minha concepção de respeito e gosto muito dela.

domingo, 19 de setembro de 2010

Emaranhado.



Os vários e urgentes estímulos que me chegam de toda parte promovem uma tal confusão que perco o fio da meada em uma época em que os fios não estão sempre visíveis.
É necessário ter foco, mas como escolher em que focar diante de tantos apelos?
A seleção já foi mais fácil. O mundo nos oferecia aos poucos seus temas. A vida nos fazia uma solicitação por vez.
As verdades demoravam mais para não mais verdades serem, dando-nos tempo para aceitarmos o que se estabelecia na ocasião como definitivo.
Na pressa em vivermos agarramos o presente sem termos sequer resolvido conflitos do passado que retornam à baila concretamente ou misturados às novidades.
É ordem do dia o julgamento rápido. Negamos ou aceitamos na hora que nos apresentam um novo fato. Absolvemos e condenamos alguém mais rapidamente ainda. Tenho a impressão que julgamos na maioria das vezes erradamente.
A vida no início do século XXI é um mistério a ser desvendado no futuro. Estamos envolvidos demais para compreendê-la nesse exato momento. Falta-nos isenção e tempo para pensá-la.
Porém é preciso andar ainda que me ocorra de vez em quando uma sensação de ando aos tropeços.
Estou tentando descobrir em que pontos meus fios estão presos, para soltá-los ou uní-los, de forma a dar fluidez a vida e entender pelo menos parte desse misterioso novelo.

sábado, 11 de setembro de 2010

Múltipla.



Utilizo-me de múltiplas narradoras quando escrevo. Valho-me da menina assombrada diante do mundo e da mesma menina de riso solto e pernas desgovernadas descendo o morro em Ponta Negra.
Lanço mão da adolescente deslumbrada ante as possibilidades e ao mesmo tempo tímida perante as mesmas possibilidades.
Sou órfã de pai no desamparo e protetora da filha única que tanto protege quanto é protegida.
Uso a mulher apaixonada tão enfaticamente como uso a mulher desiludida. Meu texto chora, ri, canta e dança conforme a sintonia.
Visto-me de dama sofisticada e dispo-me em meio a pedaços de vaso quebrado. Sou uma e sou outra.
É nítida a leitora entusiasmada em meus textos. Sopra-me ao ouvido o último autor que me encantou. Ando como Cora Coralina pelas ruas de Goiás Velho, consciente de que apenas a imito.
De cara para o vento de setembro em Natal ouço uma sonata de Bach e abrigo da ventania as páginas de um livro no qual me resguardo da tarde.
A música me transporta para outro tempo, onde sou outra pessoa, vivo outra vida, pois sou, também, aquelas que não fui.

sábado, 4 de setembro de 2010

Balas de Coco.


O faz-de-conta era bem protegido no quarteirão em que morava e onde a menina tinha tudo, inclusive medo de perder o que tinha. E perdeu um bocado. Mas não de uma hora para outra. Foi aos poucos que se deu.
As perdas antigas vez por outra voltam a sangrar. As mais recentes ainda estão sendo acomodadas entre os ganhos.
Pois ela ganhou também. E muito: Afetos, conhecimentos, experiências. Entre os ganhos pode incluir a consciência de que a vida é um terreno pouco seguro, porém rico em descobertas.
Hoje a mulher mora em um quarteirão não muito longe, onde as fantasias são diáfanas. Lá ela continua seu balanço parcial, enquanto dissolve na boca duas ou três balas de coco. Um pouco de doce não vai fazer diferença ao final. Ou vai? Na dúvida prova mais uma e sai.