sexta-feira, 21 de setembro de 2007

CHAMANDO ISAURA.



Passei e vi a casa quase ao chão. Não a derrubaram toda. Ficou uma boa parte em pé. Não sou saudosista. Até achei que havia resolvido esse assunto da venda da casa dos meus avôs. Mas não. Naquele momento percebi que não era mais a nossa casa. Deu-me vontade de entrar e chamar Isaura, a prima da minha avó que morava lá e sempre estava em casa. Deu saudade de Isaura, que embalou todos os netos com meiguice.E nem éramos netos dela. Éramos netos de sua prima. Desde aquele dia, eu calo o grito que chamaria Isaura e me faria entrar na casa que representava alegria, brincadeiras e segurança.
Quando menina, eu adorava escutar a conversa entre a minha bisavó Anna, Soledade, uma moça que costurava e morava na casa e Isaura. Viajava no tempo com elas e voltava enriquecida de lá.Minha memória abriga a vida no começo do século XX, com certa familiaridade.Como se tivesse vivido na época, em razão desse convívio.
Aquela casa evoca muitos sentimentos. Alegres e tristes. Todavia lá eu me sentia segura. Ali eu encontrava os livros maravilhosos de meu avô; ali via a família reunida; ali eu levava meus amigos. E ali vivi dores e perdas também.
Mas hoje eu quero chamar Isaura. A moça que não casou e foi morar com parentes, mas que não tinha nada da solteirona amarga. Ao contrário, era dona de uma doçura discreta. Era tímida, mas adorava conversar.
Para mim, só tinha um defeito: protegia meu primo Cláudio, que foi um dos meninos mais danados que conheci. Isaura era a advogada dele e defendia seu cliente com fervor. A mim, aquilo era injusto, pois ele aprontava todas. Hoje acho bonita essa atitude e aceito a predileção dela.
De repente, me vejo junto a Luiz Henrique, outro primo, ao redor da mesa, esperando Isaura terminar de bater os bolos. A gente ficava conversando e quando ela passava as duas tigelas para as assadeiras, era a hora de nos esbaldarmos nas sobras da massa dos bolos mesclados com chocolate.
Hoje a minha saudade da casa veio por meio de Isaura. De suas histórias, como a de ter tido que se abrigar durante a noite em casa de estranhos quando a Intentona Comunista chegou a Natal. Ou a de um naufrágio ocorrido quando um cunhado seu era faroleiro na Praia de Touros (RN).
Isaura que teve um noivo, não casou. Um dia me disse que sonhava muito com alianças. Ela não conhecia os significados dos sonhos, mas,na minha opinião, as tais alianças oníricas afloravam o seu desejo de ter alguém.
Todavia, se a vida a decepcionara por não ter lhe dado marido e filhos, ela não reclamava e oferecia sua doçura aos sobrinhos que a visitavam e a nós seus netos de coração.
Após tanto tempo a casa mudou de donos. Não é mais nossa. E não vai adiantar chamar Isaura ao entrar pelos jardins ou pelo portão da cozinha.
O assunto da casa dos meus avós termina aqui. Termina com Isaura, a moradora mais recatada e verdadeira guardiã daquela casa, de onde só saía para ir a missa. Termina com esse contato com ela, que deve estar no céu rodeada de anjos-namorados, pois se Isaura não tiver direito a esse céu, ninguém mais terá.

Evelyne furtado, em 20 de setembro de 2007.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Amor e Saudade.



Onde quero seu olhar
Encontro hoje saudade
A nutrir o verbo amar.

Tal como brisa na face
Acariciando a flor da pele
Em adorável enlace.

Onde sua boca ainda anseio.
Trago a ausência marcada
Num terno calor em meu seio.

Como se fosse o sol a aquecer
Nossos corpos e o espírito
Do amor que teima em (re)nascer.

A Mulher que bebe esperança.



Ela hoje anda devagar.Sobe a ladeiras da vida com pesar.Para. Pende. Dá a impressão que vai cair, mas, ajeita o corpo e segue. O olhar é de quem amou.Os olhos, de quem foi correspondida. O sol lhe queima os lábios, que o vento ajuda a ressecar.Ela tem sede: de vida, de tato. Sede de amor. Então, ela bebe esperança.Os sonhos a empurram. E ela segue do jeito que aprendeu a sonhar.

domingo, 2 de setembro de 2007

Fim do Domingo



É noite de domingo e Joana sente aqula pontinha de tristeza. O fim de semana é promessa de felicidade. Momentos de ócio e prazer. O Fantástico na tv dá o tom de fim de festa.


Ela sempre se sentiu mal ao entardecer do domingo.O poente por mais bonito que fosse sombreava seu coração. Quando criança e adolescente era pior. Sentia uma enorme melancolia ao perceber que o tempo da diversão acabaria em algumas horas e que a rotina das obrigações começaria bem antes do que ela desejava.


Hoje ela sente menos, talvez por que não lhe espere uma semana tão tão chata. Porém ainda perdura uma certa tristeza e ela questiona o motivo.
É adulta, tem um trabalho que não lhe exige tanto e seus fins de semana não são mais tão efusivos.

Talvez seja exatamente pela falta do prazer. Por haver sentindo tanto a falta do seu amor.br />

O certo é que o grande prazer do fim de semana termina sendo gastronômico. Ela passa a semana em dieta e se solta aos sábados e domingos. Esse é mais um motivo para temer a segunda-feira: passará fome amanhã e a falta de açúcar a deixa muito irritada.


Acordar cedo é mais um motivo de apreensão. Ela gosta de dormir e acordar tarde. Seu horário biológico é assim e Joana sofre, pois o mundo ainda não aceita bem a verdade de há indivíduos matutinos e indivíduos vespertinos. Quanta injustiça com os vespertinos como ela, meu Deus!


Mas Joana que já teve provas de que as segundas-feiras podem ser dias de grandes emoções. Um dos momentos mais importantes de sua vida se deu numa segunda-feira. br />

Um dia feito pelo Senhor e ela ainda reclama? Joana promete aproveitar melhor a sua segunda-feira, afinal poderá ser mais um dia de alegrias. Quem sabe
receba a ligação esperada? Quem sabe não terá uma bela surpresa amanhã?

Tomara que sim! Joana lerá´um pouco, assistirá a reprise de Medium na tv e terá lindos sonhos para acordar feliz. Boa Semana para todos!

Por L.M.