terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Janeiro.

Se um calendário tivesse sabor, teria janeiro gosto de manga, água de coco, siriguela. Poderia até ter paladar de caju, sem ranço, pois desses cansei há tempos. 
O primeiro mês é promessa de um ano inteiro e traz consigo calor em demasia, conversa mole, rede na varanda e maresia. 
Traz, também, lembranças de outros janeiros mais leves ou mais densos e, para meu sossego, lembro agora dos primeiros. 
Coisa mais viva é o azul de janeiro. Alargando as pupilas para abraçá-lo inteiro resvalo em um mar de cor tão linda quanto indefinida. 
Abraço é mergulho que envolve, aquece e alivia. Em certas ocasiões, também, para meu alívio, as ondas, o corpo esfria. 
Em janeiro mudo de idade.  Ora envelheço; ora sou menina e desço morros, subo em mangueiras, suo e sonho como tal. Tenho entre quinze e dezesseis, às vezes.  Em outras me assusto por não mais tê-los. Na maioria dos dias assim ondeio.
Janeiro por aqui é tão colorido quanto pode ser um calendário. São tantas as cores e os matizes já cantados como são muitos os sabores degustados, que decidi por tornar céu, mar e dunas sagrados. 
Profanos  são o amarelo, o vermelho e o verde da Feirinha de Pium  que por segundos  roubam a cena de paisagens deslumbrantes entre o mar e o mar, pois  janeiro é fruta doce em boca de criança. Um tanto de saudade e outro tanto de esperança.