segunda-feira, 21 de junho de 2010

É paixão,sim!



Sem dúvida nenhuma é paixão o sentimento que nos veste de verde e amarelo em tempos de Copa do Mundo. Temos uma relação intensa com a seleção brasileira que envolve amor, ira, prazer, alegria, medo e orgulho.
Não posso falar sobre futebol, pois não conheço bem o assunto. Mas posso falar sobre essa fuga da razão que nos governa de quatro em quatro anos: Paixão que já nos feriu de morte algumas vezes, mas que nos deu muitas alegrias.
Gosto de ver o país parar para assistir aos jogos da seleção brasileira. Gosto da expectativa alegre vencendo o temor e nos unindo em torno da TV globalizada para torcer.
Sinceramente não vejo problema nenhum nessa mobilização espontânea. Vejo beleza. Não há nada de errado em torcer a favor do talento dos nossos meninos. Vejo e torço por eles que representam nossas cores.
Acho estranho, mas procuro compreender o que leva um brasileiro a começar uma copa torcendo pela Argentina ou pela Espanha. Raiva de Dunga? Medo de uma decepção? Não identificação com o próprio país?
Não sei, mas desconfio que seja uma dessas situações e se assim for, não deixa de ser a paixão se revelando ao avesso.
Visto verde e amarelo a despeito do mal-humor do nosso técnico. A briga parece-me ser entre ele e a imprensa e a meu ver ninguém ganha com ela. Ao contrário, é bem desagradável.
Quero mais é que Dunga faça a parte dele direitinho e que não nos deixemos envolver por esse mal-estar que joga contra nossa festa.
Já aprendi a me distanciar, mas na hora do jogo não tem jeito sempre estou junto à família e aos amigos me emocionando no começo, torcendo pelo gol, sofrendo a cada ameaça e até rindo dessa paixão.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobre Saramago.


Ele tinha um ar circunspecto e talvez por esse motivo eu tenha demorado muito a me entregar à sua escrita aparentemente difícil, transferindo à literatura de José Saramago o sentimento que sentia ao vê-lo em entrevistas. Seus parágrafos intermináveis me inibiam e eu não conseguia dar continuidade a leitura.
Não sei quantas vezes tive um livro seu entre as mãos e os devolvi às estantes das livrarias, até que em um quarto de hotel em Buenos Aires, tive meu primeiro encontro com a genialidade do escritor português em As Intermitências da Morte.
Rendi-me ali, mas a conquista se deu com a leitura de Ensaio Sobre a Cegueira, onde o escritor apresenta a esperança em meio ao horror, através da personagem A Mulher do Médico.
Nesse romance sombra e luz revezam-se no pano de fundo da cegueira branca e o gênio revela a crença na humanidade com traços nitidamente amorosos.
Na literatura de Saramago vislumbrei a ternura que ele cuidava para não transparecer em suas aparições públicas e fui tocada por ela.
O mundo lamenta a perda do prêmio Nobel que ousou na forma de escrever para se fazer entender e o fez maravilhosamente.
Aos 87 anos Saramago deixou o mundo por ele pensado e repensado. Não compactuo com muitas de suas idéias, mas respeito suas convicções e realço o que nele me encantou: a magia de fazer literatura séria, ousada e atraente.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tem uma criança aí.


No meio da sala repleta a mulher tropeça e cai do salto. Mas é a menina quem sonda o ambiente e quase corre para os braços do pai, se lá estivesse o pai e não fosse ela uma mulher.
É a criança quem ri desbragadamente sem motivo algum quando a mulher dá vexame em um frouxo de riso fora de hora. Abençoada infantilidade, essa!
É também a menina quem chora um choro soluçado. Daqueles que só criança sabe chorar na fé de que alguém virá socorrê-la.
Tem mulher que chora assim antes de aprender que chorar não adianta. Um aprendizado que amargura algumas, antes de ensinar.
Tem sempre uma menina ou um menino atrás de um adulto que cai, soluça ou ri demais.
Existe, às vezes, uma criança precocemente envelhecida atrás de um adulto que não sabe chorar, nem rir de bobagem.
Tem até homens e mulheres que nunca caem. Desconfio que nesses morem crianças de olhos embaçados e sem marcas no joelho, que passam a vida na janela esperando outra criança cair para apontar.