segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Esperança.



Em uma tarde em que o calor paralisa o vento e a alma, assim como o corpo, sente saudade, ela contempla lembranças de um ano febril.

Fiel aos sentidos, acentua ou minimiza fatos, conforme as atuais sensações. Também separa a vida da imaginação.

Em gestos que lhe exige certo esforço ela rasga, guarda, apaga, ressalta, esquece e lembra o que é para ser lembrado.

Já é quase noite, quando aliviando o cansaço, ela prepara um banho com arruda, sal grosso e esperança.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Um Pouco Mais de Amor.


Porque é Natal ame e ame da melhor forma possível. Ame sempre, melhor diria, mas se lhe foi impossível amar em algum momento do ano que se encerra, aproveite o Natal e ame.

E por ser Natal, vivencie o amor em gestos ou palavras de boa-fé: acaricie, abrace, perdoe , sorria, ofereça e ame um pouco mais.

Amando nenhuma virtude será dever, pois o amor é generosidade natural, é graça sem ser obrigação, é respeito às diferenças e às escolhas do outro; é alegria verdadeira e é solidariedade espontânea.

O amor é paciente e eu quero amar pacientemente, meu Deus!

Não nos tornaremos santos instantaneamente, porém amando nos aproximaremos um pouco mais do exemplo máximo do amor fundado por Jesus Cristo e não há melhor maneira de comemorarmos a data do que amando.

Se já há amor em você distribua. Se lhe falta, semeie. Procure-o, resgate-o, inaugure-o. Ame!

Faça alguma coisa por você e comece amando-se. É muito provável que seu gesto de amor estenda-se a mais alguém se você se amar de verdade.

Um passo a mais em direção ao amor nos tornará pessoas melhores, pois nenhum conhecimento, prestígio ou acúmulo material nos alimentará o espírito sem a presença do amor.

Em meu espaço de amor ainda estreito, tento acomodar a mensagem de São Paulo na primeira Carta aos Coríntios e lembro que sem amor nada seríamos, pois os meus, e , creio, os seus melhores feitos tiveram origem no amor, ou, pelo menos na busca do amor.

Concluo que é uma ótima ocasião para amarmos um pouco mais, pois natal sem amor é festa sem alma, é alegria superficial, é, também, cultivo da dor, do ressentimento e da falta.

Amemos, pois, e, no mínimo, restauraremos a esperança de que melhores dias virão.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sirvam-se da Paixão e do Amor.


Nasce da falta e se veste de cobiça quando é paixão, aquele estado inebriante que arrasta os apaixonados em forte correnteza.
A paixão é doçura e amargor, é alegria e tristeza, é ansiedade e saudade ao mesmo tempo, é também alento e desalento, e, com certeza, fuga da razão.
O ser apaixonado alimenta-se do objeto de sua paixão, pois o amor aqui beira o egoísmo, porquanto decorre da fome.
Não jogo pedras nessa antropofagia, uma vez que se trata de uma experiência riquíssima em si e que ainda tem o poder de levar a um amor mais amadurecido na mesma relação, mas desconheço paixão que dure muito, sem causar sérios danos, quando não transcende ao amor.
Felizes os que experimentam o amor elevado, banhado em Eros, fonte do amor romântico, mas já com as águas de Philia, palavra grega relativa à amizade na visão de André Comte-Sponville.
É quando se instala a vivência do amor benevolente, terno e doce. O amor onde o bem-estar do outro interessa tanto quanto o próprio.
Trato agora do amor que ampara, que associa, que acrescenta e nada tira, o amor que ultrapassa o ego e que por isso não esmaga o eu do ente amado, ao contrário, o valoriza.
O bom mesmo é que na verdade paixão e amor não se enquadram em teorias e não cabem moldes: cada um vive a sua experiência.
Melhor ainda é saber que ambos promovem surpresas. Algumas não muito alegres, mas, a maioria, graças a Deus, é, no mínimo, nutrição em forma de maná. Portanto, sirvam-se!


Evelyne Furtado, 12 de dezembro de 2009.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ilusão.

Em dezembro, ao sul do Equador
Leio Tchekhov para enganar o calor.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Destino.



A que saiu de casa não foi a mesma que entrou na igreja. Tampouco foi a que de lá saiu com a pele em brasa sob o sol displicente com seus ombros, que encolhiam à medida que ela se aproximava da esquina com a palavra “destino” escrita na placa.

Por baixo do vestido sem cor definida ela suava. Mãos frias, coração quente, amor ardente, dizia sua avó, de quem ela lembrava ao desviar dos rostos que pareciam acusá-la daquela alegria antecipada.

A que voltou era tão misturada que nem ouso descrever. Sei que subiu aos saltos os degraus da entrada e que trazia entre os lábios o gosto entre o doce e o amargo das saudades jamais saciadas.


Evelyne Furtado, 07 de dezembro de 2009.

Enluarada.


E esse querer-não-poder
Que mata meu serenar
De onde vem meu senhor?
Ainda pergunta, minha filha
Dele se esquece e olha o céu,
Pois hoje teu não serenar
Quase todo vem do luar.