sexta-feira, 29 de junho de 2007

Despertando com o amor.



Acordo e não há muito tempo para pensar.Tenho um compromisso urgente: você. Não sou bonita de manhã, mas você terá que me ver assim. É melhor continuar me achando linda ou mentir, mas não me desagrade, por favor!

Corro ao seu encontro e ao lhe ver o dia começa para mim. Até então eu sonhava que iríamos nos ver. Acordo em tua boca.Desperto em teus braços. Vivo e morro em você. Mais de uma vez.E te amo em todas elas.

Amo você nos intervalos também.Amo quando miro o mel dos seus olhos, amo-o quando você canta para mim e morro outra vez quando você diz me amar.

Perco o senso. Aliás, nós nos perdemos ali e nos achamos no outro. Somos, os dois, um.

Lá fora a vida segue seu rumo; aqui o tempo é nosso e atende nosso apelo, dando-nos momentos sem fim.O centro de nossas vidas é aqui, a realidade é aqui.

As pessoas que correm para um lugar qualquer, o executivo que faz do trabalho seu mundo, a maldade que aflige os inocentes, o desamor, as reuniões intermináveis, nada disso existe para nós. São vidas paralelas, pois o âmago dos nossos mundos é aqui, de onde sairemos mais felizes para sonharmos com o próximo despertar.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Sirley e a Barbárie Contemporânea.



A notícia chamou a minha atenção: uma empregada doméstica fora espancada por jovens de classe média na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, onde a violência é matéria todos os dias na mídia.

Essa notícia, no entanto, chocou-me. O que justifica essa barbárie?

Que jovens são esses que agridem e roubam uma trabalhadora que recebeu da vida muito menos do que eles?

Uma inversão que infelizmente está se tornando prática comum nesse país. Os ricos roubam os pobres (não que eu aprove a violência feita pelos menos favorecidos economicamente). Acontece entre os políticos e outras autoridades corruptas que afanam dinheiro da população em crimes de colarinho branco.

Isso já estamos cansados de ver e nem por isso deixamos de nos indignar.
Agora a agressão e o desrespeito chegam à classe média. Universitários agridem covardemente uma mulher que saía do trabalho e esperava o ônibus.

Eles, os bandidos, vinham de uma rave (festinha moderna que dura, sabe-se lá regada a que, mais de 12 horas). Desceram do carro, chutaram seu rosto, bateram no seu corpo digno e roubaram sua bolsa.

Reflexos de uma sociedade doente. Sofro com as famílias desses jovens, pois não acredito que se sintam felizes com tamanha brutalidade cometida por seus filhos.
Sofro com Sirley, vítima dessa barbárie contemporânea. Sou solidária a essa mulher corajosa que conseguiu denunciar e levar seus agressores às autoridades competentes.

Sirley hoje simboliza todos os que são agredidos e roubados pelos mais fortes nesse país.

Torço para que os agressores sejam punidos e que essa chaga social seja curada em nossa sociedade, antes que não encontremos mais solução.

A você, Sirley meu abraço e admiração.

Evelyne Furtado
Em 25 de junho de 2007.

domingo, 24 de junho de 2007

Quatro anos : a mesma flor.



Hoje eu te levarei a flor. A flor que é tua e que repetidamente te entrego, num sonho recorrente.

Um sonho que começou há quatro anos e que não nos cansamos de sonhar.

Te levarei meu olhar mais apaixonado, meu sorriso mais doce, meu corpo quente e meu coração, que é seu.

Renovarei a esperança nesse amor, cultivado à distância e fortalecido quando sou tua por inteiro; quando te recebo em mim; quando nos reconhecemos um no outro.

Hoje eu te levarei a mesma flor e verei em teus (meus) lábios o sorriso que me (te) encanta noite após noite, nesses quatro anos.

Hoje eu quero te reencantar e por mais sessenta e quatro anos te amar.

Evelyne Furtado, 20 de junho de 2007.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Carta a Sylvinha.


Você chegou pequenininha nessa família de mulheres especiais. Choramos juntas quando nos vimos pela primeira vez e continuamos chorando por uns dias até que eu me sentisse digna de cuidar de você.
Fui te amando mais a cada dia. E chegava a doer esse amor. Não fui mãe convencional, mas dei o melhor de mim para você. Alimentei-te com o melhor prato que pude fazer. O único que fiz com perfeição.
Fui crescendo com você. Deixando de ser menina à medida que você tinha uma febre, uma gripe, uma doença comum às crianças. Você foi uma menina saudável, graças a Deus, mas passei algumas noites acordadas vigiando o seu sono, medindo sua temperatura, aliviando sua respiração com nebulizações (lembro de me fechar no banheiro com o chuveiro quente ligado, enquanto te mantinha nos braços, com o peito untado de Vick, para melhorar sua tosse).
Você menina, me deu pouquíssimo trabalho e continuou assim, inclusive na adolescência. Foi fácil educar você. Difícil era não me emocionar quando você participava de qualquer apresentação no colégio. O meu choro era incontrolável quando via a minha menininha linda exibindo seus talentos.
Nunca precisei ser enérgica com você, meu amor, mas houve uma dor que lhe causei -não diretamente- e que ecoou em mim por muitos anos, apesar de ter a sensação de que você havia se tornado mais feliz desde então. Uma tarde, você ainda adolescente disse com todas as letras que tínhamos acertado naquela decisão: você tinha uma família feliz.
O amor é incondicional e constante. A admiração só tem aumentado.Ontem uma coisinha linda a nos alegrar; hoje uma mulher decidida, organizada, inteligente e responsável. Permito-me babar quando elogiam seu trabalho, sua determinação, sua garra. E o melhor é que você não perdeu a doçura e a ternura de menina.
De repente a minha cria afia as asas e dá seus primeiros vôos solos. Está preparada, eu sei. Dá uma lição de independência e eficiência na mãe mimada que aplaude e se emociona. Bons, vôos, minha flor, mas volte logo porque ando com saudade de você.

Evelyne Furtado, em 18 de junho de 2007.

domingo, 17 de junho de 2007

Uma janela na Rue de Renne



Abriu a janela e o ar frio atingiu seu rosto. Uma sensação gostosa, como também era gostoso o calor do interior no quarto. Os contrastes a atraíam. Sempre fora assim.

À sua frente, outras janelas ornadas com flores a faziam pensar em quem habitava aqueles cômodos. Tão charmosa a Rue de Renne! Ela se sentia em casa ali. Gostava de andar só pelas ruas, de sentar nos cafés, de olhar as pessoas passando, de imaginar para onde iam.

Há poucas horas sentira-se uma mulher feliz. Bateu pernas pelas calçadas e sentara para comer um croque monsieur com uma coca light. Adorava Coca-cola e nem o preço em Euros a assustava.

Um lanche simples e mais caminhada, olhando a cara de quem passava. Não só a cara: prestava atenção nas roupas, nos cabelos, nos sapatos e na expressão dos homens e mulheres de várias nacionalidades que nem a notavam, ou se notavam não se incomodavam com sua curiosidade.

Voltara ao pequeno hotel e após um banho, deitou-se para ler. Acabou cochilando, mas não descansou. Acordou, e a velha inquietação a tomou. Foi então para janela e tentou distrair-se adivinhando a vida dos habitantes da vizinhança.

Não deu muito certo e o pensamento voou para longe. Alguém a chamava em outro continente. Ou era ela própria que buscava aquelas lembranças para se reencontrar consigo mesma?

Não podia fugir de quem era, do que vivera. Ela nunca sabia se a ansiedade precedia esses pensamentos ou se era o contrário.
O fato é que as lembranças vinham sempre acompanhadas da velha inquietude.

Os sentimentos que envolviam suas recordações a deixavam ansiosa. Quanta coisa sentida, meu Deus! Quantas alegrias, prazeres, desilusões e sofrimentos. Chegadas e partidas. Será que as emoções contraditórias tornavam-no inesquecível?

Ah, ela amava os contrastes. Mas amar é sofrer? Não necessariamente, porém ultimamente ela amava e sofria. Nem adiantava dar a volta ao mundo, pois aquele amor tinha se entranhado na bagagem. Fazer o que? Amor que é amor vive nas entranhas mesmo.

Ai, que vontade de voltar a ser feliz como pensara ser naquela tarde. Melhor ainda seria tê-lo ali naquele quarto de hotel aconchegante. Já imaginou que delícia andar de mãos dadas por essa cidade linda, depois voltar para aquele cantinho e fazer tudo aquilo que os deixavam deliciosamente exaustos?

Agora acabara o sossego de vez! Acordar do sonho era tão desconfortável quanto pisar descalça sobre areia aquecida pelo sol de sua terra.

Era pior. Despertar daquele tipo de sonho era muito desesperador. Nem podia correr ou gritar. Refletiu um pouco e decidiu: só havia uma coisa a fazer: entrar numa Brioche Dorée, tomar um chocolate quente com croissant (vários, de preferência) e descer até a igreja de Saint-Germain-des-Prés.

Comer e rezar, para afastar desejos impossíveis. Depois, um café e um táxi de volta ao hotel. Sofrer de amor em Paris é no mínimo mais charmoso.

Evelyne Furtado

sexta-feira, 15 de junho de 2007

SEU DESTINO É AGORA.



As lágrimas molhavam seu rosto. Não sentia vergonha de chorar na frente dele. Homem não gosta de mulher chorando, diziam.Ela não ligava para isso.
– Não chore,por favor! Ele fala ao acariciar seu rosto. O gesto tem efeito oposto ao que ele desejou. Ela encosta a cabeça no peito dele. Sente o conforto daquele corpo quente e desanda a chorar, como se houvesse rompido um cano lá dentro do seu coração e toda a água estivesse inundando seus olhos escuros e tristes.
Ela tem certeza que o ama e o quer. Ele diz que a ama, que a quer, mas que não pode ficar ainda.
Ela sente o medo de perdê-lo e recua, como se ao sair de perto do homem amado, preservasse ao menos a sua dignidade. Acusa-o de fazê-la sofrer. Ele pede calma. Diz que ela sabe que não é assim. Repete que a ama e se aproxima com cuidado.
Atrás dela o abismo do abandono; à frente o homem amado dizendo não poder ficar ainda. A dor e o medo confundem-se com o amor. Ela teme olhar para trás.Ele toca seu ombro. Ela se chega devagarzinho. Levanta a cabeça e encontra o rosto bonito e amado. Olha-o nos olhos e vai perdendo as forças. Abraçam-se. Ele beija seus olhos ainda úmidos.
– Ah, eu te amo muito. Ele diz ao seu ouvido.É a rendição final. No momento ela esquece o que a levou a chorar. Não pensa no amanhã. Só há um destino possível. Entregar-se ao seu homem.Recebe-lo em seu íntimo. Seu destino é amá-lo e fazê-lo feliz. Seu destino é agora ser feliz.