domingo, 6 de maio de 2012

A Freud com Carinho.


Custa-me escrever diretamente ao senhor, embora o cite quotidianamente. Lembro perfeitamente quando ouvi o seu nome pela primeira vez. Era uma adolescente pouco preocupada com algo além de viver sofregamente o que a vida me trazia.
Um pouco mais tarde, já na faculdade de Direito, um professor  fez referência ao livro recém-lançado pelo psicanalista Renato Mezan. Tratava-se de Freud  Pensador da Cultura.  Fiz meu pai procurar a obra em São Paulo, uma vez que não estava disponível na minha cidade.
Ganhei o livro e iniciei aos poucos, de forma não contínua, confesso,  a curiosidade e admiração pela Psicanálise e  seu fundador. O livro é precioso, pois além do conteúdo, traz dedicatória do pai amado com data de 1985. ( _Soa familiar,  Herr Doutor?).
Bem, nessa época eu me preparava para ser mãe, e aqui ouso discordar do senhor: Nada se compara a essa maravilha. Fica clara a minha incompreensão sobre a sua ( com todo respeito) Visão da Sexualidade Feminina. Não reconheço a tal inveja sobre a qual o senhor falou. Ser mãe é o máximo, Dr, Freud!
Porém, o assunto não é esse e me perdoe por já começar discordando de quem  admiro tanto. Mais desculpas pelo tom informal que vou assumir a partir daqui. É que nasci e me criei muito longe da Bergasse, 19.
Aqui a formalidade é quase zero, portanto não considere meu tom coloquial um desrespeito,  do contrário ficarei sem graça e meu afeto será recalcado. O senhor compreende? Creio que se esforçará, pelo menos em retribuição ao empenho que venho empreendendo para entender sua obra tão complexa.
Voltando ao que interessa, hoje , aluna de sua "tirana" e amada Psicologia, leio , releio e sublinho como se gritasse "eureca" quando faço uma grande descoberta. Não domino os seus conceitos . Não li um décimo do que o senhor escreveu. Mas lerei toda a obra, se Deus quiser.  Aqui cometi outra heresia (aos seus olhos) que me permito, sim senhor. Eu acredito em Deus e no senhor. Que Ele me perdoe e o senhor não se ofenda.
Como disse acima, não domino os conceitos, mas saiba  que mergulhei no inconsciente com os meus olhos bem fechados. Aprendi tanto sobre mim e sobre o outro que só Deus sabe o quanto.
Ah, o mundo está uma loucura, Dr, Freud. Há uma gritaria geral, mas não tivemos mais guerras como a última da qual o senhor e sua família foram vítimas. Temos outras batalhas. Outras dores.
 A boa nova é que  nesse ano do seu 156º aniversário , não existem mais histéricas.  Por outro lado sofremos de depressão, ansiedade , fobias e outros males. Os sintomas expressam-se de outra forma, não é?
 De bom, Doutor, posso dizer que a liberdade foi ampliada. Todavia, ainda sentimos culpas, medos e angústias outras. A velha ambiguidade é perene. Continuamos amando, odiando e recalcando nessa segunda década do século XXI. 
O recalque é necessário , mas reconhecer nossos desejos e sentimentos não tão belos é um alívio. Agradeço-lhe, portanto, pela nova compreensão do ser humano que alcanço  a cada leitura de seus elegantes e fascinantes escritos.
No mais felicito-o pelo aniversário e aproveito para lhe comunicar que a causa é vencedora: A psicanálise influenciou toda civilização ocidental e continua agregando adeptos, apesar dos detratores de plantão.

Com  a  admiração e o carinho de uma freudiana amadora.


P.S.  Espero não ter cometido nenhum ato falho, o que é frequente em mim. Se o fiz, o senhor certamente explicará.