segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Outro amanhecer.



Se demorei demais para responder é por que a vida não anda tão fácil por aqui. Tudo parece correr ao contrário do que previ. Ou do que sonhei. Bebi sonhos ao anoitecer por muito tempo, certa de que o saudaria em um próximo amanhecer. Mas a noite insiste. Algumas são claras, doces e ternas. Outras sombrias. É quando mais sinto e sentir nem sempre é bom. Contudo, sinceramente, às vezes sinto-me muito bem.
Esperei o momento melhor para escrever. Aguardei as palavras certas; não queria errar e não querer errar é um suplício. Não dou um passo por medo de cair. Não falo nada para não me comprometer. Ou, ao contrário, falo tanto que nada consigo dizer; corro sem governo e sem destino.
Hei de encontrar alguma coerência em tudo isso. É reconfortante pensar que existe um sentido nos passos trôpegos, no alvoroço ou mesmo na calmaria. Todo universo em sincronia.
É vital acreditar em alguma coisa. Eu acredito em muitas: em Deus, em Freud, nos afetos, nos cristais. Alguns dias creio até em astrologia.
Em tempos em que a vida não nos permite realizar tudo aquilo que sonhamos, é preciso respirar fundo, viver o que é possível ser vivido e manter a fé, mesmo que mesclada como a minha.
Bem, era o que eu tinha para hoje, além do desejo insistente de sermos felizes. Fico por aqui, até outro amanhecer.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Perguntas e Respostas.





C
Há tempo de fazer perguntas e tempo de aguardar respostas.
Tempo de obter respostas e tempo para refazer perguntas.
Há períodos nos quais as respostas amadurecem como frutas, que se não são colhidas na hora certa perecem.
Há um tempo em que perguntas e respostas convivem ambivalentes.
Brigam entre si.
Muitas vezes nem se reconhecem, pois não são da mesma natureza.
Em outros se harmonizam: perguntas e respostas.
Tempo bom! Instantes que dispensam relógios.
Batidas, só as do coração pulsando regularmente.
Ou as do mar no rochedo doce e insistentemente.
Repito: tempo bom!
Mas há momentos em que as respostas chegam sem o devido amadurecimento.
Surgem todas de uma vez, enfileiradas, uma após outra,
Como letras formando palavras perfeitas, mas em língua desconhecida.
Chega o tempo de reaprender.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Amor e paz.


A inquietude parece ter sido amplificada. Milhões de pessoas gritam e paradoxalmente eu não sinto vontade gritar. Sinceramente, nem de escutar. Assusta-me tanto barulho.
Buscar espaço, respeito e consideração por vezes requer alarde. Porém, tenho a impressão que gritam, mas não sabem onde dói.
A dor talvez seja difusa, mas real, e, sem outra alternativa, o berro seja a solução mais fácil.
Acontece que não estou nessa sintonia, embora tenha meus motivos, não quero vociferar agora. Meu instante é de recolhimento.
Eu desejo paz e amor. Anseios antigos e pouco lembrados. Remonta a década de sessenta do século passado um movimento com esse lema, que certamente foi um dos mais pacíficos e bonitos. Claro que na mesma época houve movimentos de natureza mais ativa, que a mim sempre pareceram conscientes.
Nessas pessoas que gritam e ateiam fogo em prédios em Londres hoje não estou conseguindo perceber um mínimo de consciência.
Diante das parcas e confusas informações - fato estranho no mundo de redes sociais e mídia globalizada - eu só consigo perceber agressividade.
O mundo segue assustado com o tropeço nas contas do Tio Sam e eu aqui temendo nem sei o que, pois não tenho um centavo sequer aplicado nas bolsas que caem. Bem, intuição não me falta, uma dose de drama também não, assim, posso explicar meu desconforto.
Agora é esperar para saber mais. Continuo sem vontade de gritar, mas desejo além de amor e paz, um pouquinho mais de sensatez e um bocado de esperança.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Azulejaria.


A mulher nem notou as primeiras gotas,pois a princípio aquele abrigo a protegia. Logo a chuva empoçava o chão estragando os laços de seus sapatos azuis.
Dois ou três passos separavam-na da melhor proteção. Mas ela preferiu encolher-se. E foi diminuindo pele, músculos, ossos, carne, tempo e excessos de todos os gêneros. Alice, outra vez, ela sentia respingos de chuva e arrepios. Tinha, então, 15 anos e de alguém se despedia. A mão era o conforto, assim como a bebida quente. Um gole para aquecer por dentro. Outro para esquecer lá fora. A mão no pescoço, nos ombros, nas costas. A roupa colada ao corpo. O cabelo desfeito. O medo do passo imperfeito e a porta fechada na parede em azulejaria. Faltava um azulejo. Qual seria? A busca na memória tirou-lhe o sono, mas enfim, dormiu dois dias. Acordou com Baby I Love Your Way. Peter Frampton cantava outra história, outra vida, em outra rua. Como seria?