segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Azulejaria.
A mulher nem notou as primeiras gotas,pois a princípio aquele abrigo a protegia. Logo a chuva empoçava o chão estragando os laços de seus sapatos azuis.
Dois ou três passos separavam-na da melhor proteção. Mas ela preferiu encolher-se. E foi diminuindo pele, músculos, ossos, carne, tempo e excessos de todos os gêneros. Alice, outra vez, ela sentia respingos de chuva e arrepios. Tinha, então, 15 anos e de alguém se despedia. A mão era o conforto, assim como a bebida quente. Um gole para aquecer por dentro. Outro para esquecer lá fora. A mão no pescoço, nos ombros, nas costas. A roupa colada ao corpo. O cabelo desfeito. O medo do passo imperfeito e a porta fechada na parede em azulejaria. Faltava um azulejo. Qual seria? A busca na memória tirou-lhe o sono, mas enfim, dormiu dois dias. Acordou com Baby I Love Your Way. Peter Frampton cantava outra história, outra vida, em outra rua. Como seria?
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