segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

VALEU A PENA!




Não foi um ano qualquer. Vivi em 2008 emoções fortes. Naveguei com calmaria, vento bom e tempestade.
Fui acariciada, afrontada e confortada. Chorei e ri. Vi o chão fugir dos meus pés e senti braços amigos me sustentando.
Alguns bateram a porta na despedida; outros chegaram com presentes. No balanço, somei amigos. E que amigos!
Vi sonhos crescendo e outros ruindo. Adaptei-me às mudanças de planos e ao fim constato que o saldo é bastante positivo.
Às portas do ano que chega, sinto-me íntegra, mais mulher, mais forte. A dor que a alma sentiu, refletiu no corpo, mas a cada dia dói menos. As cicatrizes ainda estão comigo e conservo o cuidado ao pisar.
Valeu a pena, pois se alma apequenou-se diante das tormentas, alargou-se com os abraços, a ousadia , a irmandade, a coragem, o perdão e a verdade. Foi dessa forma que cruzei o Bojador.
No limiar de 2009 o coração bate em allegro ao perceber o quanto venci e a vitória maior vem com a filha que se formou em arquitetura com louvor. Conquista dela que chega a mim e adoça o coração.
Nada prometo para o próximo ano, porém chegarei lá mais segura e dando graças a Deus. Será com sal e mel que continuarei alimentando os que moram em meu coração.
Nesse momento me despeço de qualquer traço amargo e pinto com alegria e esperança meu cartão de Feliz Ano Novo que envio a vocês, desejando saúde, amor e paz.

Evelyne Furtado.




" Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

Fernando Pessoa, em Mar Português.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Verão.


Saio da sombra
Volto para o sol
A face clara

Cubro vontades
Protejo pele,
Ânima e intimidades.

domingo, 21 de dezembro de 2008

" É só olhar, depois sorrir, depois gostar..."'




Os versos da canção de Johnny Alff remetem meus sentidos à Ponta Negra de minha adolescência. Veraneio, casa cheia de crianças e adolescentes. Morros , céu e mar à nossa disposição.
As músicas nos fins de semana, no entanto, eram escolhidas por meus pais e assim conheci Noel, através de Betânia, Elis, Maysa, Vinicius, Toquinho e Maria Creusa.
Ouvi inúmeras vezes O Que É Amar e sua letra hoje é saudade, que vem com o verão. Saudade do tempo em que as relações amorosas começavam com o olhar, passavam pelo sorriso, chegavam ao beijo e ao gostar, que não precisava ser eterno, mas que era muito bom enquanto durava.
Não se pensava muito. Não havia espaço para especulações e as fantasias eram vividas a dois.
Claro que havia triângulos amorosos, mas era fácil desfazê-los. A presença de outra pesssoa na relação era percebida pelo sorriso, pelo toque e pelo olhar do outro.
"Você está diferente", era uma frase comum e normalmente surtia efeito: a verdade vinha à tona.
Só ficávamos juntos se gostassemos um do outro. Não havia outra intenção. A minha memória seletiva diz isso e hoje eu confio nela.
Claro que havia todo o tempo do mundo para uma adolescente que descobria o saboroso despertar do amor entre olhares, sorrisos e amassos.
Havia também uma inocência abençoada que excluía terceiras intenções e dava coragem para seguir buscando quem fizesse o coração acelerar, causasse o frio na barriga e a vontade de ficar cada vez mais perto do escolhido.
Depois de anos de olhares que vêm e vão; depois de tanta complicação, foi-se a inocência. Algumas intenções são óbvias e a experiência ajuda a tratar delas; outras não e estas deixam medo ou travo no coração.
Era bem mais fácil quando a resposta vinha como na letra de Johnny Alff: " você olhou, você sorriu, me fez gostar".

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sonho de Natal.


Visto um sonho de Natal
Roupa alegre
Desejo de paz
Amor na ponta língua
Ato que apraz
Mãos que colhem,
Repartem
Sorriso e pão
Peito aberto
Divino perdão.

sábado, 13 de dezembro de 2008

APENAS UM SONHO.




Hoje tenho pouco tempo e muito assunto. Impossível falar sobre tudo que quero , portanto vou falar de um sonho medonho como o da música de Chico.
Aprendi que o sonho é uma das maneiras de nos libertar. Sonhando nosso inconsciente libera o que recalcamos em vigília.
Uma outra forma de nos desfazermos do que nos incomoda é a somatização e venho somatizando há algum tempo.
Meu corpo tem expressado a dor que alma não suporta. Em meio a momentos de alegria e plenitude a ferida da alma ainda lateja em crises de coluna, em pés fraturados ou em viroses.
O sonho dessa madrugada foi provido de símbolos tão claros que dispensou esforço para sua interpretação. Posso até recorrer a Freud ou a Jung mais tarde, agora é desnecessário, pois o sonho continha todos os elementos : pessoas , situações, sentimentos e cores.
As expressões faciais, os olhares e as intenções também estavam lá. A surpresa, a decepção, a indignação, a injustiça e a dor foram vividas por mim enquanto dormia.
Acordei rindo e meu sorriso refletiu a leveza de não mais trazer sobre os ombros o fardo que sobrecarregava meu ser.
Espero ter fechado de vez o ciclo, sinto-me como se tivesse enfim dado a última pincelada em uma tela inacabada.
Livre, encerro esse breve escrito com Padre Antonio Vieira definindo os sonhos bem antes dos doutores acima citados:

"Os sonhos são uma pintura muda, em que a imaginação a portas fechadas, e às escuras, retrata a vida e a alma de cada um, com as cores das suas ações, dos seus propósitos e dos seus desejos."

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

À FLOR DA PELE.





"Ando tão à flor da pele
Qualquer beijo de novela
Me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar "flor na janela"
Me faz morrer
Ando tão à flor da pele
Meu desejo se confunde
Com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele
Que a minha pele
Tem o fogo
Do juízo final(...)"
Zeca Baleiro.



Ser citada em um belo texto de Zélia Maria Freire, sobre beijos, fez festa em meu coração. Diz Zelinha que sou expert em amor. Deve ser porque escrevo muito sobre o assunto e tenho essa alma romântica.

Diz ainda, Dona Zélia, que tenho sensibilidade à flor da pele e aí já não questiono. Sou sensível em excesso o que me faz viver com intensidade alegrias e dores.

Quando o bem me visita recebo-o com emoção. Abro portas e janelas. Entrego corpo, alma, coração. Sou boa anfitriã. Sirvo o melhor de mim. Retribuo pão e vinho.

Quando o mal se insinua eu tremo aos sinais. Às vezes finjo não vê-lo até que ele se impõe. Então não tem volta. Bato a porta na cara. Choro o que tenho direito. Recolho-me para recuperar as energias.

Se choro em filme de amor e fecho os olhos em cenas de violência, imaginem o que sinto quando sou protagonista da história?

Sofri todas perdas. Vivi todos os amores. Todas as minhas emoções são sentidas com verdade. Não escondo de mim mesma os sentimentos.
Aprendo no amor e na dor, pois muitas vezes não posso escolher. Retorno melhor, mais forte.

Não quero perder a sensibilidade. Quero alargar os sentidos e prestar mais atenção aos sinais. Quero trocar amor com amor. Quero trocar paz com paz. Quero aprender a escolher. Quero um olhar sincero, para melhor me ver.

Quero ouvir Zeca Baleiro, arder antes do juízo final, receber bilhete de amor em papel de pão, tocar o céu junto a quem me fizer feliz e acreditar no amanhã.


Evelyne Furtado, 02 de dezembro de 2008.


Evelyne Furtado

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Eterno Querer.




Acima o céu
Abaixo o mar
Desencontros de pedras
No meu pisar
Alívio da alma
Pulsão de viver
Passado e futuro
Eterno querer
Deparam com flores
Meus olhos perdidos
Pintam o espírito
De todas as cores.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

DOM DE ILUDIR




Acordei pensando sobre o amor e a verdade. Fala-se sempre de amor verdadeiro e ligamos o amor real à verdade.

Repetindo Cazuza: mentiras sinceras interessam. Há momentos que evitamos a verdade por amor. Não há amor que resista a sinceridade total.

Mentimos com amor quando dizemos que o outro acorda lindo, que o seu ronco é canção de ninar e que não ficamos tristes quando falta dinheiro para o jantar prometido.

São mentiras amorosas que fazem bem ao amor. Mentiras proferidas naturalmente, uma vez que há um pouco de verdade nelas. Pois os feios são belos aos olhos de quem os amam e essa percepção é um milagre do amor. Coisa das mais bonitas!

Infelizmente nem toda mentira nasce do amor. São as mentiras que destroem. Inverdades que escondem o caráter. Jogos de luzes. Ilusões de óticas com fins poucos nobres, afinal quem ama mentindo faz com que o outro ame uma ilusão.

Essas são intragáveis e ao serem reveladas causam dor. Fingimentos com o propósito de iludir são maldades das quais nem os poetas são isentos. Poesia é feita de sonhos e de vida. Nem sempre traz a verdade presente, mas a verdade desejada ou passada refletindo a real face do autor.

A verdade, por sua vez, também, tem o dom de iludir, como canta Caetano. Porém, ao final do amor, quando passa a dor o que importa é que "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", de acordo com o poeta de Santo Amaro da Purificação.

Evelyne Furtado em 30 de novembro 2008.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

LENITIVO.




Um fio de luz penetra minha alma
Curando cicatrizes internas.
Um olho atento lê meus movimentos
Um anjo conduz os intrumentos.
Entrego-me confiante.
Abro-me ao seu olhar.
Ajo ao seu firme comando.
Nasço em suas fortes mãos.
Bebo de sua fonte:
Lenitivo às dores do coração.