quarta-feira, 29 de abril de 2009

Paisagem Particular.


A mulher bem que gosta das dunas vestidas de verde que seu olhar alcança, porém se sente entediada quando a paisagem se repete na janela sem lhe arrancar suspiros.
Bom é quando algo a sacode como se ela estivesse em um rally. Então ela vibra com as cores, as sensações, os ruídos e a força da vida pulsando ao seu redor. A vida corre e corre a mulher atrás da vida.
De repente há uma curva que na ânsia de viver, ela fez questão de ignorar.
Frear ou sobrar?
Se ela não decide a vida pisa no freio na hora certa. Sentimentos e órgãos se chocam. Confusão de emoções, dores no corpo e feridas na alma misturam-se no chão. Passado o susto o leito é seu conforto, a esperança seu alimento, o afeto seu lenitivo.
Ao levantar aceita a curva, o freio e se perdoa por acelerar além do permitido. Senta de frente à janela e torna à sua paisagem particular.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

CENA.



A cena é longa.
Eles se empolgam.
Ela não para de falar.
-Corta!
Depois do grito, o silêncio.
Dele. Dela.
Protagonistas sem diretores,
A vida se encarrega de frear
-Que se entendam em cena!
Libera a direção:
Eles sabem o bom do calar.

sábado, 18 de abril de 2009

Quando Teresa Chovia.




Teresa choveu dias seguidos. Ora tempestade, ora neblina, ela chovia. A chuva , em determinada época, era tanta que seus ossos tremiam, como tremiam seu queixo, sua fala, sua vida.

Vez ou outra tinha a sensação de que a estação chuvosa havia parado, mas bastava uma pinçada no coração para que suas nuvens produzissem mais chuvas.

A chuva de Teresa tinha como matéria prima sonhos desfeitos, mas caía em doce devaneios também. Continha frustrações, impotência e ira, porém trazia deleites e esperança no seu molhar.

Às vezes Teresa ria de si mesma, vendo-se como uma personagem de gibi que andava com uma chuvinha particular sobre si, pois chovia em casa, no cinema, no carro, no shopping e na rua.

Quando sorria era chuva com sol. Casamento de raposa com rouxinol, como dizia sua mãe.

Teresa sentia-se bem quando acordava um dia bonito. Em dados momentos quase foi arco-íris, porém, antes da tarde terminar voltava a chover.

Teresa não se conformava em ser chuva e usou métodos diversos para não mais chover. Desenhou sol de farinha, rezou a Santa Clara, chamou São Pedro para uma conversa íntima. Cantou e dançou para estiar.

Aos poucos Teresa, entendeu que a sua chuva era a parte de si que a conhecia melhor. Cada gota vertia um sentimento que nem mesmo ela imaginava existir. A chuva sabia demais por isso Teresa chovia.

Chuva abençoada a dessa moça. Veio como o dilúvio para lhe renovar. Levou o que ela não poderia mais reter, inundou para desencardir e regou sua alma para o plantio.

Atualmente Teresa faz calor, faz frio, faz tempo bom e chove nas horas certas para amenizar a aridez que lhe cerca em alguns dias.


Evelyne Furtado.

Este texto faz parte do III Desafio Recantista de 2009.
Saiba mais, conheça os outros textos: http://www.escritoresdorecanto.xpg.com.br/desafio200903.htm

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Salva

Por olhos de tal cor
Imprecisa como a vida
Indomável qual o amor


quinta-feira, 9 de abril de 2009

ZOUK.


E ela foi chamada para dançar.
Assim, sem mais nem menos, em plena rua.
Espantou-se.
Onde já se viu?
Para falar a verdade ela não o conhecia.
Não antes daquele dia.
Ali, em meio a praça, na frente de tanta gente, ela então o enxergou.
Ainda que meio trôpega aceitou a dança do olhar.
E dançou com tudo que tinha direito: olhos, bocas, braços, pernas e fantasias.
Desde o começo, sabiam os dois, a coreografia daquele dia
Além de todas as outras que os sentidos permitiriam.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Leitor.


Um livro novo,
Preciso escrever
Sensações impensadas
Palavras não nascidas
Sentidos vitais
Com versão em braille
Você vai (me) ler.