segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

De céu e mais.


A janela do meu quarto me oferecia um céu inteiro. De súbito um edifício cortou-me um pedaço de céu.
O prédio não se fez em um dia, porém só o percebi ontem à tarde, o que me levou a pensar no quanto estou desatenta ao que me rodeia.
Indaguei sobre o que pensava enquanto os operários erguiam o grande edifício:
Será que prestava mais atenção aos vazios deixados pelas casas demolidas na vizinhança para erguer novas edificações ou, mesmo, aos meus próprios vazios? Será que me fixava em palavras e saudades? Será que me esforçava para aprender novos conceitos?
Talvez todas essas alternativas acrescidas a uma e outra preocupação expliquem o meu descaso com o céu recortado à minha revelia.
As reflexões se multiplicaram e eu, ansiosa, já me antecipava a pensar que logo iriam me tirar mais céu.
Foi quando me forcei a contemplar a paisagem que tenho agora e que é feita de presente, saudades e vontades futuras.
No momento escrevo e assisto uma entrevista com o poeta Ferreira Gullar e ele diz coisas preciosas. Começo a dividir a atenção entre o texto e o poeta. Ele ganha fácil. É conveniente parar por aqui.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Na Madrugada


Um (invisível) abraço
Desata nós
Anseia laço.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Véu.



Contemplou sua imagem ajustando o ângulo até se gostar. Satisfeita ousou um pouco mais e seu reflexo já não era o mesmo. Repudiou-lhe um esgar.
Novo ajuste na expressão facial em busca da face serena que encontrou. Achou também o olhar misterioso e nele mergulhou impetuosamente.
Viu-se, então, em uma casa de espelhos: O anjo de asas quebradas, a bruxa no auto de fé, a ingênua do teatro mambembe, a quase sofisticada, a menina trêmula, a fêmea dócil e a voluntariosa.
Um véu a desvendar-lhe olhares. Unhas dos pés em esmalte vermelho. Deleites e alma torturada. Boca cor de boca. Espartilhos a perfurar-lhe entranhas provocando desmaios. Um sorriso manso ao retornar.
Uma vontade de ferro em busca de ombros gentis. Uma corrida louca para fugir da cansativa razão. A cegueira consciente e a verdade inconsciente da qual puxava um fio a cada noite
Em cada tentativa um novo afogar. Há muita água nesse mar e mar não tem cabelos, dizia-lhe o pai para alertá-la. O que de muito lhe valeu. Mas de muito não lhe valeu, pois continua a fiar, mesmo quando cansa de a si mesma olhar.

Humanidade.


Faltam-me asas
Sobra-me humanidade:
Lágrimas, ira,
Sonhos, mágoas
E um tanto de coragem
(Que a alguns carece)
Para assinar o que digo
Penso, sinto, trato.

Evelyne Furtado, 2008.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Valeu, Ronaldo!


Atualmente não se concebe inteligência no singular. A ciência ampliou o leque e não se prende apenas ao conceito de inteligência medida em testes. Há muitas aptidões e algumas ainda são subestimadas pelo senso comum.
A propósito de um fato que hoje me emocionou eu falo das múltiplas inteligências de Ronaldo, o Fenômeno.
A mais visível é a ação de neurônios, nervos e músculos que o permitiam prever os movimentos dos oponentes para então arrancar rumo ao gol.
Mas, Ronaldo foi aquinhoado, também, com outras formas de inteligências, expandindo seus limites físicos e emocionais.
Envolvido em situações polêmicas, assumiu algumas atitudes com simplicidade. Recebeu com humildade as inúmeras alfinetadas - e aqui alfinetes são eufemismos.
Hoje ele se despede e como todas as despedidas a sua tem uma nota de tristeza. Fala das dores físicas, do hipotireoidismo, das agressões das quais foi vítima, mas ressalta as vitórias e as alegrias.
Diante de minha inabilidade para escrever sobre futebol, tento um esboço absolutamente dispensável sobre inteligências para justificar porque gosto de Ronaldo.
Sentimento não se explica. Mas se porventura existir uma explicação para esse sentimento específico, ele próprio a deu ao dizer que sua carreira foi linda, maravilhosa e emocionante. Deve ser por isso. Valeu, por mais essa, Ronaldo!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

" EU SENTI"


Hoje falo de imagem e som, pois palavras, só lembro das duas que foram proferidas antes dos créditos subirem. Eu não entendo de cinema, eu apenas gosto. E é nessa condição que peço licença para falar.
Por mais ou menos duas horas meus olhos fecharam-se em alguns momentos por não suportarem o que a tela exibia.
Em muitos outros instantes meu olhar expandiu-se para absorver tamanha beleza.
O mesmo prazer foi proporcionado aos ouvidos. Afinal o filme é sobre perfeição e balé. O Lago dos Cisne, no cinema, recebeu o tratamento plástico que a obra de Tchaikovsky merece,
Não tenho como fugir aos adjetivos. Cisne Negro é instigante, belo, repulsivo, deslumbrante e exaustivo.
Oferece prazer estético e aversão, ao mesmo tempo que trata de conflitos psicológicos intensos expondo o claro e o escuro; a vontade e o medo; a disciplina e a emoção; a ambição e a culpa e, ainda, o auge e a queda.
Ao sair do cinema, alguém me perguntou:
- E aí?
Antes de pensar em uma resposta mais adequada, respondi no ímpeto:
- Estou morta!
Meu instinto de preservação quase me leva a comprar outro bilhete para assistir Zé Colméia, o filme. Porém optei por suportar um pouco mais todo tormento emocional idealizado por Darren Aronofsky e interpretado magistralmente por Natalie Portman.
Ainda preciso entender melhor as múltiplas mensagens do criador de Cisne Negro. Mas ficará para outra conversa, outra sessão, outra época. Por enquanto fico com a imagem, o som e a última fala da protagonista: " Eu senti.”.