segunda-feira, 27 de junho de 2011

Querido Diário.

O poeta nos ofereceu uma nova criação após um estio no gênero e criou uma enorme polêmica. A princípio não o reconheci. Mas era ele em letra e música. Li e reli. Encontrei uma estrofe que lembra o Chico de antes. Achei, também, o verso tão criticado. Foi estranho "ler" o tal amor pela mulher sem orifício. Uma santa? Senti uma pontinha de sarcasmo. Uma crítica do cotidiano, quem sabe.
Li inúmeros comentários na internet. Alguns raivosos, outros com laivos de decepção, uns apaixonados. Li algumas criticas muito fortes e, talvez, sem isenção.
Voltei ao Querido Diário. Ouvi, apenas, e foi melhor assim. Depois uni letra, música e voz. Coisa de fã.. Mas ainda não cheguei a uma conclusão.
Intuo que ali se encontra mais um personagem de Chico Buarque de Holanda. Um personagem contemporâneo, vivendo seus dilemas, procurando um significado para vida e debochando dela, da religião e do amor.
Alguém entre o ingênuo e o mordaz. Um homem, provavelmente, vindo do interior, que cria um cachorro e não bate em mulher nem com uma flor, mas que gosta de ver a dele chorar.
Pronto, se não acertei, criei um novo tipo a partir de Chico Buarque. Acredito que ele cumpriu sua parte mais uma vez. Agora é ouvir mais, pois música tem um efeito diferente ao longo do tempo e as dele parecem melhorar com os anos.




Querido Diário.
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Hoje topei com alguns
conhecidos meus
Me dão bom-dia [bom-dia], cheios de carinho;
dizem para eu ter muita luz
e ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho

Hoje a cidade acordou
toda em contramão
Homens com raiva,
buzinas, sirenes, estardalhaço
De volta à casa, na rua
recolhi um cão
que, de hora em hora, me arranca um pedaço

Hoje pensei em ter religião
De alguma ovelha, talvez,
fazer sacrifício
Por uma estátua ter adoração
Amar uma mulher sem orifício

Hoje, afinal, conheci o amor
E era o amor, uma obscura trama
não bato nela, não bato
nem com uma flor
mas se ela chora, desejo-me em flama

Hoje o inimigo veio,
veio me espreitar
Armou tocaia lá
na curva do rio
Trouxe um porrete, um porrete a "mode" me quebrar
mas eu não quebro não, porque sou macio, viu?!

Fio Solto.

Encontrou um fio solto
Na saia guardada:
Desnuda-se há três dias.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Últimas.


Começou a estação dos ventos. Aqui por essas praias o ano se divide assim: tempo quente e úmido e chuva com ventania. Desde que o mês começou chove dia sim, dia não
e venta todos os dias. Até setembro aumentará a velocidade dos ventos.
Esfria um pouco, mas você rirá do meu frio. Não sei lhe interessa, mas por esses dias na cidade há focos de insatisfação. Jovens reunidos fecham avenidas contra a administração pública. Ventos de cidadania? Espero, sinceramente, que sim.
Há greves também. Muitas. Aqui e no resto do país. No Rio houve até um motim. Mas não vi protesto na rua reivindicando a saída do ministro.
Talvez sejam os meus sentidos, mas o cenário que vejo é confuso. Ruídos em excesso. Silêncios também. Por mais paradoxal que isso possa lhe soar.
Sinto-me como uma folha fazendo desenhos no ar. Deve ser por conta do vento. Esse sim eu sei que existe e passa por mim ligeiro deixando-me a alma um pouco fria.
Chove e meus pés também esfriam. O coração, porém, se mantém quente e espero que assim continue até a próxima edição.