segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mesa de Cabeceira.






Ao alcance da mão convivem  prosa e  poesia. Um mundo encantador, caótico e confortador. Livros, livros, livros. O Homem dos Lobos divide o mesmo espaço, na mesa de cabeceira, com Fernando Pessoa e Manoel de Barros. Proust hoje faz  sentido. Na data da folha de rosto daquele exemplar (1984) não fazia. Faltava-me calma, por certo, e sabedoria. Sinto-me mais calma pelo menos. Esaú e Jacó, o último da atual safra de releitura de Machado de Assis aguarda a vez. Comecei a reler Gabriela, mas parei no meio. Um gole de brasilidade para aquecer. Não parei por vontade minha, emprestei a minha mãe que tem prioridade. Tem mais  Freud: O Mal Estar da Civilização, Luto e Melancolia, entre outros. Nenhum pouco ortodoxa, adquiri recentemente Terapia Cognitiva, Teoria e Prática de Judith Beck. Rebeldia? Também. E o pior é que gostei. Mas gostei mesmo, aliás, estou gostando é de O Rio é Tão Longe. Comprei para presentear a alguém que mantém até hoje um olhar de dezenove.  Comecei a degustar as cartas de Otto Lara Rezende para Fernando Sabino e não consigo parar. Delícia de texto que me faz rir sozinha como ria Otto lendo as cartas de FS (que infelizmente não tenho em mãos). Que geração maravilhosa, aquela! Vivem nas correspondências de O.L. R. Drummond, Vinicius, Rubem Braga, Hélio Pelegrino, Paulo Mendes Campos, Juscelino, Jango, Jânio, Castelo Branco, o jornalista e o marechal. Que prosa, seu! Ele vai da literatura a política com um senso de humor afiado e inteligente. Sobram ternura e "puxadas de angústia" (adorei essa expressão!). Agora volto a estudar Psicologia nesse finzinho de agosto no qual o vento sopra como deve soprar em agosto. Também gosto e muito! Ah, esqueci de falar de Nelson Rodrigues, que habita O Rio é Tão Longe, mas aí posso entrar em uma vereda proustiana e não tenho tempo. Preciso estudar e mais tarde terminar o livro que não é meu para entregar a quem de direito. Por hoje é só.  Tentarei , um dia, harmonizar  meu saboroso caos.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Vela e poesia.


Um halo cinza cobre a cidade.
Por onde anda o sol que antes a cobria?
Indaga a mulher encharcada
Sem se dar conta que chovia.
E como chovia naquele dia!
Cabelos em desalinho, pés frios, cabeça vazia.
Desprevenida a mulher seguia. 
Falei em cabeça vazia?
Que erro de percepção!
Tinha ela corpo e alma povoados de sensações.
Mas para ser fiel à verdade, lhes digo:
Ela mirava a poesia
Mas eram tantos os pensamentos
Que não enxergava um palmo
Além do  calor  que a consumia.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Caetaneando.

A primeira vez que ouvi Caetano foi na casa de Tio Geraldo, na Rua Potengi. Tinha menos de dez anos pelos meus cálculos feitos com menos rigor que emoção.
Escutei Mora Na Filosofia, em alto volume como meu tio gostava.  Não sabia o que era filosofia, nem entendia a letra, mas Caetano me ganhou ali.
Depois, outro tio, em outro endereço, dessa vez de frente para o mar de Areia Preta, chegou com o LP Araçá Azul, trazendo o polêmico Caetano Veloso de tanga na capa. Experimantalismo que eu não dava conta, mas já gostava.

Mas tarde ganhei de meu pai um álbum duplo com as músicas, que nas minhas contas adolescentes, eram de um passado remoto ( contas de adoloescentes são equívocas!). Então me apaixonei por Alegria, Alegria, Coração Vagabundo, Baby e decorei o discurso de Caetano no Festival. É proíbido proíbir!
A partir daí eu já era fã de Caetano e o acompanhava. Em um show em Natal ele cantava Força Estranha e Como Dois e Dois  quando alguém da platéia gritou: _ Cante uma sua! Foi o suficiente para assistirmos um sermão esclarecedor de Caetano Veloso destinado àquele fã, que provavelmente não gostava de Roberto Carlos. Caetano mostrava claramente que não tinha preconceito.
Nesse mesmo espetáculo houve certa confusão perto do palco e alguns policiais intervieram. Confesso aqui minha total ignorância sobre o estado ditatorial no qual vivíamos ao fim da década de setenta. Mesmo assim achei o máximo quando ele pulou o alambrado do ginásio e veio conversar com os guardas na minha frente. Aquele homem leve como uma pluma, vestido com um short minúsculo branco  dava mostras de coragem e bom senso ali na minha frente. Resolvida a confusão o show continuou.
Venho ouvindo, lendo e vendo Caetano Veloso só e  bem acompanhado: Doces Bárbaros , com Gil, Gal e a irmã Betânia, com Chico ( que parceria, meu Deus!), com Roberto Carlos em Cd que adoro, em filme de Almodóvar , com Djavan e, mais recentemente com Maria Gadu. Ele brilha e respeita o brilho do outro.
Caetano completa setenta anos melhor do que nunca. A oração ao tempo deu certo. Não foi ele quem disse que artista não envelhece?
Em mim só crescem a admiração e o afeto. Admiro suas letras: poemas ousados, belos e geniais.  A minha língua é lírica e bela, culta ou inculta em Caetano Veloso. Maravilha!
Adoro suas interpretações, que vestem bem  músicas consideradas menores e concedem originalidade a consagradas canções de outros compositores. Caetano dá vestes celestiais às próprias criações e canta como um anjo da ordem Joãogibertiana.
Falo em afeto, pois aqui estão registradas minhas memórias afetivas ligadas ao poeta e músico de Santo Amaro da purificação e na minha casa encanta desde a minha mãe até a minha filha.
Talvez minha mãe seja a mais apaixonada. Mas duvido. Sou louca por ele! E, como falar em amor sem lembrar meu pai? Sampa era sua música preferida e toda santa vez que ouço me emociono.Ah! Bruta flor do querer.
Ah! Bruta flor, bruta flor...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012