quinta-feira, 30 de julho de 2009

Será Arte?




A vida oferece tom, cor e sabor às emoções que produzem sensações diversas em um verdadeiro show de variedades.

Felizes o que possuem talento para a catarse, manuseando impressões em gestos, falas, palavras, performances, rítmos ou pincéis.

O protagonista às vezes dança como o bêbado da canção de João Bosco, imortalizada por Elis. A corda é seu caminho e chegar à outra ponta em todas as apresentações é sua vitória.

A sensibilidade é fundamental para que haja o bom desempenho. A técnica e o aprendizado são necessários, porém não substituem a emoção de forma alguma.

Esquecer a fala ou errar o passo pode parecer fatal. Mas a alma é imortal e se não for vendida como a de Fausto, ressurgirá no outro dia ou em qualquer dia seguinte ao ocorrido.

A alma vai além do ego fornecendo o fogo sem o qual o espetáculo será mera repetição do cotidiano frio e isso fica para as comadres que assistem a vida de suas janelas sem atuar.

Àqueles que foram presenteados com o dom de traduzir a aventura de viver é imprescindível que não deixem faltar lenha para alimentar a vida e iluminar o palco, pois do contrário a catarse será feita em becos escuros ou simplesmente não acontecerá intoxicando atores e platéias.

Traduzir-se, poema de Ferreira Gullar outra vez me serve, me guia e me auxilia na tradução da vida, portanto destaco os versos que dispensariam todas as minhas palavras, mas que insisti em manter por teimosia ou por pura catarse.


"Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?"

Ferreira Gullar.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pudim de Pão.



Amanhã, lhe oferecerei as palavras que durmo hoje para você.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Vermelho Predominante.





Um cabelo de duas cores com a fronteira claramente visível. Metade da cor natural e a outra metade ruiva. Era sonho e despertei com a sensação pouco confortável que o revestia.

Ao invés de afastá-lo o abracei, pois os sonhos fornecem material rico para o autoconhecimento e sinto muito prazer ao tentar decifrá-los. Para ser honesta, nem sempre me dedico assim, mas gosto quando o faço.

Evito a vertente premonitória. Prefiro a que Freud descobriu e que Jung desenvolveu divergindo do mestre. Busco o conteúdo psicológico dos sonhos.

Ao meu modo, anárquico, sem purismos ou anotações debruço-me sobre as imagens e sensações. Minhas interpretações são livres e simples. Apenas tento ouvir o que digo para mim mesma através dos sonhos.

Cortar, por uma tinta nova ou deixar crescer?

Eis a questão fundamental do meu sonho vermelho predominante e a ansiedade vinha da conscientização de que os fios sensíveis não suportariam mais uma camada de tinta de cor diversa e de que cortar o cabelo naquele cumprimento seria outra forma de agressão.

Passei o dia decodificando a mensagem e decidi não mexer no sonho colorido que ainda está em mim. Depois verei o que fazer com ele.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Ilha.



Na adversidade
O solo macio
Nos acolheu.

Em meio à bruma
O farol do desejo
Nos acendeu

Em marcha implacável
Noites insones, o tempo,
Nos ofereceu

Na realidade
O banzo é uma ilha
Do amor seu.

sábado, 18 de julho de 2009

Festa.


Há hora de por a mesa
O momento do prazer
E o tempo de recolher:
Pratos, velas e flores
Corpos, copos e sabores
Que deixam gosto e saudade
- da festa.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

ALMA TRANSGRESSORA.


Comprar livros é uma compulsão assumida. Enquanto alternava minha atenção entre dois recentemente adquiridos e ampliava meu espaço à cabeceira para acomodar mais daqueles que preciso tê-los ao alcance das mãos, entro na livraria e dou de cara com A Alma Imoral do rabino Nilton Bonder.
Minhas mãos tocaram o exemplar e fui seduzida pelo texto que fala sobre um olhar profundo que "enxerga quando a obediência significa desrespeito e a desobediência representa respeito".
Tentando dar um pouco de ordem à minha leitura me esforço para terminar o livro da moça que comeu, rezou e amou. Não quero ser injusta, nem tenho estofo para julgar a literatura de ninguém, mas nem mesmo Roma me pareceu muito atraente nas palavras da autora. Bali também não. Menos ainda a Índia.
Para ser justa confesso que me identifiquei com algumas passagens de Comer, Rezar e Amar, mas fiquei muito cansada com aquelas meditações de madrugada, com a disciplina de um ashram e me chateei mesmo com o estereótipo do brasileiro que encontrei ali.
_ Se ela nos define assim, como posso acreditar no que ela fala sobre os italianos, indianos e balineses?
Foi com alívio que terminei e me entreguei à Alma Imoral. Parece contraditório encontrar refrigério nas palavras de um rabino depois de ler alguém que pratica Ioga, medita e sai pelo mundo em aventura.
Pode até ser, mas li com prazer sobre a importância da transgressão para a evolução da alma. Identifiquei-me com a necessidade premente que sentimos de transgredir quando o espaço onde nos encontramos torna-se estreito.
Vibrei com as definições sobre traidor e traido, principalmente com a troca de papéis. Foi duro aceitar que a dor do traído é a dor do apego, mas me reconheci aí.
Foi maravilhoso descobrir que quando paramos de lutar no espaço estreito e marchamos com a alma aberta rumo ao mar, este se abre, como se abriu para o povo de Israel.
Não se trata de um texto irresponsável e quem conhece o autor sabe do que falo. Nilton Bonder não manda ninguém trair, mas aponta quando é necessário, dizendo que " há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade".
Meu encontro com A Alma Imoral é um daqueles de rara preciosidade. O livro é fácil , mas não é simples.
Os conceitos sobre o corpo e a alma, o correto e o bom,a satisfação e a honestidade precisam ser aprofundados em outra leitura.
A certa altura Bonder diz que "quando formas de hipocrisias vão ganhando espaço e a conduta é marcada por dissimulações, paramos de sentir satisfação" e eu aplaudi essa verdade tão óbvia e tão ignorada.
Claro que usei meu "filtro" particular na leitura e que ainda sou limitada para compreender todo conteúdo do livro, porém saber que Deus abençoa as almas transgressoras desde Adão e Eva me fez muitissimo bem.

domingo, 12 de julho de 2009

Ardi ontem
Chovi hoje
Lembrarei amanhã.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sonho de Noites de Verão




Temo a próxima palavra com receio de macular o sonho. Preservarei o estado de alma a todo custo e , portanto, serei breve ao me expressar.
O medo já foi vencido pela vontade quando deixei crescer minhas asas antes cortadas. Voei quase às cegas, mas pouco me importava o que via durante a travessia.
O destino, sim, era importante e me atraía como imã. Lá encontrei pão e vinho. Doce e sal. Foz e cais. Renovei as energias na mesma fonte em que as gastei. Fartei-me no teu olhar. Não dormi; sonhei para não despertar.
Ri das mesmas piadas e adquiri novas para permanecer sorrindo, ainda assim chorei, mas chorei com doçura.
Fui à festa com a melhor companhia. Dançamos os passos ensaiados e improvisamos outros ousadamente sem medo de errar.
Quis trazer sua gravata, mas você trocou por um cravo que guardo em meio às melhores sensações.
Retorno com o corpo cansado, mas com a alma tão leve que a qualquer momento posso sair pela janela a levitar.
Dormirei. Talvez o sono seja, no momento, a única forma de manter o sonho acordado em mim.

domingo, 5 de julho de 2009

Sentidos.



Os cinco,
Entre o vinho e a carne,
Tive-os intensamente contemplados.

O sexto fez-me vibrar
À sombra do teu olhar

O sétimo, todavia,
Permanece como de sempre:
Totalmente sem sentido.