segunda-feira, 29 de outubro de 2012
De sonho e poesia.
Luta, ansiedade, agonia.
Pesam, os cílios, toneladas
Cerra os olhos: liberta a poesia
Em veste de suave alegria
Dança no firmamento desnudo
Tão nua quanto o céu, a poesia.
E o desejo latente varia.
De uma esquina a outra
Vagueia a celeste poesia.
Em desordenada alforria
Fugindo do algoz carcereiro
Vence sempre a poesia.
Para provar tal iguaria
Um leito de estrelas é suficiente.
Vive a poesia.
Ao despertar recomendaria
Lembrar passo a passo
A dança da poesia.
Para o desejo ser revelado
À luz de sol ou candeeiro
De quem fez a poesia.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Vestido Estampado
Por trás da cor neutra e da austeridade do corte do vestido ninguém
poderia saber o que se passava. Carne, pele e alma sofriam com tanta
sobriedade.Os gestos não. Seu comportamento era medido. Havia aprendido
como proceder com recato. Fizera um esforço enorme para alinhar o andar
antes ondeado, cruzar as pernas com cuidado, conter as mãos que em outros tempos pareciam
desejar agarrar o mundo em um abraço, mordia a língua afiada.
Cultuar o silêncio, agora, era sagrado.
Não sabia, coitada, que assim vestia o espírito em espartilho apertado. Uma camisa de força toldava-lhe a alma. Era outra, a elegante mulher que a habitava. Séria, confiável, sensata. Uma dama comme il faut.
E a alegria, onde morava? Não mais ali. Não mais com ela. Alegria era um endereço de um passado não visitado. Sofria em silêncio, pois nem o luto lhe era permitido. Vagava aflita por sonhos ceifados, mas era elogiada pelo discreto recato. Talvez apenas o olhar a denunciasse.
Vinha assim até que escapou de si um rosto do passado e com ele uma ousadia incontida. A mão esbarrou em um vaso levando ao chão todo o esforço acumulado. Confundiram-se cacos de vidro, água, flores, abraços. Um estardalhaço. Foi salva a mulher por esse desacato. Já ri e se desfaz do cacos, enquanto inaugura um novo vestido estampado.
Não sabia, coitada, que assim vestia o espírito em espartilho apertado. Uma camisa de força toldava-lhe a alma. Era outra, a elegante mulher que a habitava. Séria, confiável, sensata. Uma dama comme il faut.
E a alegria, onde morava? Não mais ali. Não mais com ela. Alegria era um endereço de um passado não visitado. Sofria em silêncio, pois nem o luto lhe era permitido. Vagava aflita por sonhos ceifados, mas era elogiada pelo discreto recato. Talvez apenas o olhar a denunciasse.
Vinha assim até que escapou de si um rosto do passado e com ele uma ousadia incontida. A mão esbarrou em um vaso levando ao chão todo o esforço acumulado. Confundiram-se cacos de vidro, água, flores, abraços. Um estardalhaço. Foi salva a mulher por esse desacato. Já ri e se desfaz do cacos, enquanto inaugura um novo vestido estampado.
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