segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pronta?



Nunca estou pronta. Toda hora constato que falta alguma coisa ou que tem algo sobrando em mim.
Às vezes saio de casa com a sensação que esqueci de por batom, que não trouxe o celular ou que estou sem dinheiro.
Nessas horas faço um check list para me tranqüilizar e muitas vezes constato que esqueci algo. Se der para voltar, ótimo. Caso contrário vou sem lenço, sem documento, ou sem os brincos.
Em outras ocasiões sinto que carrego peso demais. Bolsa abarrotada de quinquilharias, mala cheia de roupas que não usarei, lembranças volumosas ou excesso de expectativas. È o momento de retirar itens dispensáveis, embora tudo me pareça essencial.
Quando é o coração que pesa uma tonelada o trabalho para torná-lo suave é penoso. Haja oração, meditação, razão e lágrimas, enquanto busco novas conexões neuronais para suavizar a bagagem.
Na verdade creio que ninguém está pronto. Estamos continuamente nos adaptando ao presente e nos preparando para o próximo movimento da vida, para o qual, de forma a evitar ansiedades desnecessárias, usarei um pretinho básico, que pode até ser o vestido estampado, contanto que me deixe à vontade comigo mesmo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Rubor.


Na semana que passou ouvi Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo falando sobre a dificuldade que antecede o ato de escrever. Ouvi mais Zunir do que Veríssimo. Para ser mais exata o primeiro falou e o segundo confirmou com um gesto.
_Senhores, fiquem certos de que o leitor não percebe. Essa aqui, por exemplo, só aprova o que vocês escrevem e no momento sofre para juntar lé com cré em um texto minimamente inteligível.
Lembro de Rachel de Queiroz falando de tal angústia. Ela foi uma das primeiras escritoras que conheci e de cara gostei. Para mim as estórias saíam de sua pena facilmente. Ela, no entanto, dizia que era um sofrimento.
De que é feita essa agonia? Suspeito que tem a ver com responsabilidade, exposição, e aprovação. No meu caso garanto que é timidez. Empaco porque alguém vai me ler e me julgar.
Mas nem sempre é assim. Às vezes minha prosa jorrar entre sensações, opiniões e sentimentos.
O problema é que quando releio alguns desses textos meu estômago revira. Não me reconheço em alguns e em outros me reconheço demais.
Tímida e impetuosa. Essa sou eu. Agora mesmo, encontro-me entre esses extremos e meu rosto está esquentando. Devo estar vermelha por me incluir entre os nomes acima citados. Vão pensar que estou me achando! Pronto: revelei-me de novo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Às vezes amplio o nada.

sábado, 14 de agosto de 2010

Plurais Vênias.


Peço licenças, ainda que com atraso, pois já escrevo o que me vem à cabeça desde sempre. Minhas licenças são plurais como a pedir perdão pelos desvarios passados e futuros.
Dito o que acima disse, passo às licenças, com redundância mesmo, pois a vida é redundante e meus pensamentos repetem-se até que eu os esgote por ter aprendido ou por encontrar um novo alvo.
Peço vênia para a minha espontaneidade, porquanto acho incômodo fazer de conta que sou escritora séria quando sou amadora e como amadora não me dou bem com os sofrimentos da escrita como árdua missão.
Continuo pedindo licença para continuar exibindo minha sensibilidade cujo limiar ao rés-do-chão é responsável pela overdose de emoções que me anima e me abate, conforme minha percepção a alheia intenção.
Sigo com essa informalidade difícil de disciplinar, desejando ser perdoada pela afronta às regras que conheço e pela ignorância as outras normas que deveria conhecer.
Entram na lista os excessos e as faltas. Peco nos extremos quando carrego nas tintas e quando economizo palavras. Quando avanço demais em um assunto ou quando fujo do tema.
Mas é assim que busco a minha expressão mais pura, muitas vezes contrária às informações cada vez mais rápidas e múltiplas que a mim chegam, aumentando minha timidez que não é outra coisa senão o medo de errar ou de cometer injustiças.
Aproveito para dizer que amei à primeira vista a expressão plurais vênias , quando a encontrei no Memorial do Convento, do mestre Saramago e que, portanto estou bem contente por poder utilizá-la neste momento.

Evelyne Furtado, 14 de agosto de 2010.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010


Ventos de agosto erguem lembranças.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ao Tempo.


De lá para cá, quanto tempo? Desistiu de contar dias, meses e anos. Colecionar datas significativas deixou de ser importante desde que percebeu que doía mais que soprava.

Os fatos, não esqueceu. Muito menos as pessoas ligadas aos fatos. A memória afetiva trabalha a seu favor. Apega-se ao bom e segue do jeito que pode seguir.

Buscar uma lembrança boa ao despertar tornou-se um exercício diário. Hoje procura as melhores recordações quase naturalmente, mas em determinado período de sua vida o dia começava com a luta para se desfazer do que lhe afligia.

O tempo é santo. Faz milagres na memória tornando quase invisíveis as imagens tristes e inaudíveis os sons traumáticos. O calendário marca os dias na mesa de trabalho, na parede, no monitor e no celular, enquanto ela faz preces ao tempo, como já fez Caetano.

domingo, 1 de agosto de 2010

Passo Doble.

Ele aparece do nada e você que não é toureira encontra-se desprevenida. Não dá tempo para correr? Então use a capa que tiver à mão ou ao corpo e enfrente o touro.
O vestido vermelho lhe servirá de capa. Um frio lhe subirá pela espinha. Seu estômago dará cambalhotas. A boca ficará seca. E a cabeça rodará como se você estivesse de porre.
Se quiser desistir posso voltar. Tentarei escrever outra coisa. Mas o touro aproxima-se. Não dá mais correr.
A sensação é de irrealidade, mas o touro é de verdade. Ainda poderá usar a capa vermelha, mas com a sua falta de habilidade os chifres do touro vão fazer dela uma manchinha vermelha voando por ai.
Você talvez não resista a uma performance, então esboce uns floreios, mas vá se preparando para ficar mais indefesa a partir de então.
O touro e você na arena. Adrenalinda, cortisol e mais hormônios que não me cabe agora elencar. Pegue-o o à unha e vá. Será uma experiência importante. De tão impactante lhe dará, ao final, a impressão de que você não saberá mais andar. Você sentirá, mas não saberá dizer o que sente. Desejará sobreviver e como quem está escrevendo sou eu, garanto que conseguirá.
A salvo você ainda se sentirá meio tonta. Algumas verdades serão desfeitas; suas crenças serão abaladas, seus limites estarão bem visíveis.
O touro foi pego à unha e você sobreviveu às suas arremetidas. Seu mundo mudou de eixo, mas ainda está em movimento. Ficarão pedaços de touro embaixo da unha, como a lembrar de que não foi sonho. O vestido, que foi capa, será substituído. A vida continuará, porém não como antes. Essa dança lhe deixará marcas que lhe ajudarão a continuar.