sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Vida Sem Manual.


Acredito que algumas pessoas sabem como agir em cada passo da vida, ou ao menos assim demonstram; outras hesitam nas transições (naturais ou não) e são essas que me interessam no momento.

Refiro-me àquelas que se sentem perdidas entre uma fase e outra da vida; as que ciclicamente perguntam-se o quê e como fazer a partir de então.

Em algumas situações nos assustamos ante a percepção de que a vida não vem com manual e nossas mentes revisitam os conhecimentos adquiridos procurando respostas para uma equação de dificil solução.

Temos consciência de que algumas saídas anteriormente exploradas já não nos servem, enquanto outras não nos motivam o suficiente para transcendermos.

Os sinais são múltiplos e os caminhos vários, o que só aumenta a confusão interior.

Pessoas queridas nos oferecem afeto, apoio, conselhos e exemplos de caminhadas. O amor é nutrição mais que bem-vinda, porém nosso caminho é singular. Cada experiência é única.

Os livros são valiosos: a filosofia oferece algumas respostas e mais perguntas; os romances e a poesia nos encantam e albergam nossas almas cansadas.

A fé é um dos recursos mais importantes , pois conforta e dá sentido à existência. Não acredito na sobrevivência da humanidade sem a crença coletiva em um ser superior.

Mas se não podemos continuar no mesmo compasso de antes e não descobrimos quais os seguintes, uma pausa é salutar para o reabastecimento sem culpa, pois até os grandes param, que o diga Dr. Freud, que estancou diversas vezes durante a elaboração de sua teoria psicanalistica.

Se possível-e quase sempre é - que a angústia que acompanha a travessia seja temperada com alegria e prazer, sinais valiosos de que vale a pena insistir na reinvenção da vida até que os primeiros passos sejam dados na nova direção.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Indolência.


Nessa estação superlativa

Em que o calor adomece os sentidos

O ócio é prática sanativa.




Ilustração de Lili Gribouillon encontrada no Google.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Discernimento com Chantily


A festa, os passos dissonantes e a queda. A solidão seguida da perplexidade. O tudo envolto em trapos. A cor dando lugar ao nada.
O mergulho profundo e o caos. Chicotes na própria carne lavada com água morna e amor, pois que só o amor cura.
Mas o fundo do poço é mola e um feixe de luz atravessa a cortina.
A frase vinda de fora chama a atenção e as mãos abrem a janela. O sol invade a vida de forma absurda e o riso fora de hora é um espanto, mas também um aviso da alegria subterrânea.
No meio tempo a vontade é lúcida e a ternura acompanha a saudade para aplacar a dor.
Borrões ganham contornos nítidos. Visões do inconsciente?
Verdades benignas e "ais". A frase na ponta da língua e não dita.
Não cessam as indagações, por isso cultiva a paciência.
Quem sabe assim a vida lhe trará discernimento com chantily?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Água de Banho.


Suor e perfume
Viagem liquida
Do ralo ao mar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Hábeas Corpus em Licença Poética.


Excelentíssimo Senhor Presidente do Superior Tribunal de Expressão.



Flor Meireles, brasileira, poeta, residente e domiciliada na Cidade dos Ventos vem, através do presente mandamus, requerer preventivamente a tutela do direito a livre expressão de seus sonhos, opiniões e sentimentos evidenciados através de palavras, sentenças, períodos, parágrafos, versos ou qualquer outra forma de linguagem.


O instrumento ora em uso foge dos pressupostos legais pertinentes ao hábeas corpus estrito senso, uma vez que não pleiteia a liberdade de locomoção, mas sim a liberdade própria de quem sonha e sente em demasia.

A impetratante pretende utilizar-se da licença poética e se desembaraçar de qualquer rigor formal em suas manifestações, motivo pelo qual busca a garantia para desafiar alguns ditames, enfatizando, porém, que não pretende ofender a moral, o direito, a ética ou quem quer que venha a ler seus textos.


Ante o exposto, requer essa impetrante, que Vossa Excelência conceda o salvo-conduto para o trânsito de suas inquietudes, incertezas, alegrias, tristezas, pulsões e amores por linhas e entrelinhas.

Nesses termos
Pede deferimento.



Flor Meireles.

Cidade dos Ventos, 08 de fevereiro de 2010.

* Texto levemente inspirado no Hábeas Corpus, uma das Garantias Constitucionais Individuais, previstas no artigo V, inciso LXVIII da Constituição Federal.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

De Volta ao Rio.





Fui ao Rio buscando beleza e alegria. Reencontrei a mesma cidade deslumbrante que a minha memória guardava sem sentir o medo alimentado pela mídia nos últimos anos.

De qualquer ângulo o Rio se ofereceu lindamente. Do alto do Corcovado, do Pão de Açúcar ou do Morro da Urca a cidade seduz qualquer olhar e a visão do Cristo Redentor nos acompanha quando estamos no asfalto.


Os males do Rio não são para os visitantes. Eu pelo menos não os vi. Vi gente na praia em todos os momentos em que cheguei à janela. Pessoas de todas as idades, corpos de todas as cores, sarados ou não, sentem-se no direito de pisar a areia ou as pedras portuguesas da orla.

O calor de quarenta graus pode e deve ser abrandado com um chopp gelado ou mais, depende da sede e da disposição. Sede que também pode ser aplacada com água de côco no calçadão.

O Rio é metrópole sem pose e além da natureza inigualável a cidade esbanja história e cultura. Lembramos Machado de Assis no Cosme Velho, de Vinicius e Tom nos bares de Ipanema, só para ilustrar o texto com alguns dos seus habitantes ilustres.


Li uma frase de Nei Lopes, o compositor, sobre a cidade ter sido dividida pela desigualdade social. Não vou discordar de quem tem autoridade para discorrer sobre o assunto, mas, se me permitem o egoísmo e a alienação, não fui com esse intuito, fui para me presentear e tive o melhor presente possível.

Do Leme ao Pontal, como cantou Tim Maia, meu olhar só achou o belo que se prolongou pela Avenida Niemeyer ate a Barra, com o Morro do Vidigal se contrapondo ao mar, em formas e cores absolutamente distintas, mas igualmente bonito.

Na Lapa, não encontrei os malandros românticos das letras de músicas -talvez alguns pós-modernos- mas adorei o que vi, bebi, ouvi e comi por ali.

A Rua do Ouvidor, no centro, me remeteu ao passado e na Gonçalves Dias, encontrei a Confeitaria Colombo com sua elegância centenária e deliciosas iguarias.

Depois do ir e vir descontraído de Ipanema, do Leblon e da Lapa, a noite do Rio me ofereceu outro presente: ensaio técnico da Portela na Marquês de Sapucaí.

Nessa noite o Rio entrou em minha vida com a bateria e o samba meio apressadinho, porém irresistível, da escola de Paulinho da Viola, levando meu coração no canto da liberdade sem fronteiras da águia guerreira.