segunda-feira, 31 de março de 2008

A OUTRA.



Inês vinha de um casamento desastroso. Estava separada há dois anos, período no qual havia tido umas duas tentativas de relacionamento que a deixaram mais frustrada ainda. Passara a evitar os homens com medo de novamente se machucar.
Disfarçava sua carência afetiva realizando atividades que a impediam de pensar no assunto. Iniciara uma nova carreira cursando direito na universidade, motivo que a levou a mudar de emprego, aceitando a vaga de secretária em um conceituado escritório de advocacia.
Para Inês o dia começava de madrugada, pois freqüentava a academia no primeiro horário. Trabalhava o dia inteiro e estudava a noite.
Convivia com outros homens, mas nenhum chegara a despertar mais do que a agradável sensação de que era desejável.
Sentia-se protegida até que o seu novo chefe começou a elogiar seus atributos morais, ao contrário dos outros homens que sempre exaltavam sua beleza.
Confiava nela, contando-lhe sobre a sua vida sem graça, pois a mulher sofria de uma enxaqueca crônica, que requeria seu apoio, porém impedia que seu casamento fosse completo.
Dizia-lhe que a mulher era uma pessoa ótima, mas que ele sentia falta de alguém especial que lhe proporcionasse paixão.
Inês passou a ser sua confidente e cada vez mais próxima dele. Aguardava ansiosa as chamadas à sala do chefe. Notava os olhares dele e gostava disso.
Na primeira carona que ele lhe ofereceu ela perdeu aula na faculdade. Foram a um restaurante discreto onde conversaram mais sobre a vida dela que lhe contou o que havia sofrido no casamento desfeito.
Ele a confortou. Lastimou não terem se conhecido antes e confessou-se apaixonado. Inês assustou-se, mas não resistiu ao beijo intenso quando ele a deixou em casa.
Ao mesmo tempo Santa esperava o marido para jantar, estranhando a sua demora. Ele não estava no escritório e o celular não atendia. Começava a ficar preocupada, quando ele chegou. Beijou-a e disse que tinha visitado um cliente em casa e que o celular havia descarregado.
Nessa noite, o sexo foi bem melhor e Santa dormiu mais feliz. Ele quase não dormiu pensando em Inês.
A partir desse dia Inês já não resistiu. Amava aquele homem bom e compreensivo que se dizia apaixonado por ela. Percebia todos os inconvenientes da situação. Não queria acabar um casamento, mas ela havia dito que já não existia casamento e sim uma amizade entre ele e a mulher.
Inês passou a ser a outra e apaixonada andava nas nuvens. Tentava disfarçar seu amor, mas quando se encontravam a sós, entregava-se ao homem que a deixava louca de desejo.
A felicidade inicial inibia qualquer questionamento ético ou moral. Nada era pecado para quem amava e eles se amavam. Sua vida passou a esperar pelas oportunidades que podiam desfrutar. Nada mais lhe interessava.
O melhor dia da semana era segunda-feira, quando se viam após o fim de semana no qual ela passava só aguardando qualquer sinal da parte dele.Não saía de casa, pois ele poderia entrar a qualquer hora no msn.
O celular ficava ligado o tempo todo.
Os amigos reclamavam à sua presença, mas ela não se incomodava Nos fins de semana, ela não dormia, não relaxava, não descansava.
Sentia-se inerte, pois não podia ligar para ele. Tinha que esperá-lo e se no começo ele ainda dava alguma notícia, com o tempo dizia ter ficado difícil se comunicar e toda espera era inútil.
Inês começou a juntar raiva, rancor, tristeza e decepção em seu íntimo, que , porém, desaparecia quando entrava na sala dele e se jogava em seus braços.
Ele, que no começo sentia uma atração louca por ela (atração confirmada com o ótimo entrosamento sexual), começou a sentir uma certa preocupação com o prolongamento daquela relação, afinal tinha um bom casamento, não queria se separar.
A proximidade o incomodava e ela passou a percebê-lo diferente. Ele negava e dizia que era impressão. Inês vivia eternamente em ansiedade. Nada mais lhe importava a não ser manter o seu amor e assim, fazia tudo para não irritá-lo.
Dessa forma o triangulo resistiu um bom tempo. Santa que tivera um certo medo de perder o marido obteve deste a promessa de que jamais a deixaria.
Inês sofria calada, mas esquecia qualquer dor quando podia estar com ele. Chorava e ele a acalmava. Dizia amá-la e pedia paciência, embora nas férias viajasse com a família deixando-a um mês, sem mais que dois ou três telefonemas.
Ele sentia-se bem com a sua família e amava a sua mulher a seu modo.O que lhe faltava encontrara em Inês. Enquanto pudesse administrar aquela situação estava tudo muito bem.
Sentia saudade da outra quando estava longe, mas jamais poria seu casamento em perigo por isso. Quando voltasse ele a confortaria como sempre fazia e tudo voltaria ao normal.

Evelyne Furtado

domingo, 30 de março de 2008

A SANTA.



Ele saiu e Santa ficou em casa. Ainda havia a louça do café para pôr na máquina, terminar a maquiagem, dá uma última olhada no espelho e correr para o trabalho.
Santa já chegava ao trabalho cansada, afinal acordara com o beijo contumaz do marido as 5h30. Ele faria a sua corrida matinal. Ela começaria a preparar o desjejum das crianças. Depois iria acorda-las.
No começo era gostoso dar cheirinhos nos filhos - dois meninos de sete e nove anos- como não acordavam assim, puxava os cobertores, abria as cortinas. Terminava dando uns gritos e empurrando-os para o banheiro.
Quando ele retornava da corrida, a mesa estava pronta, as crianças sentadinhas na mesa e ela os servindo, enquanto comia apressada e bebia uns goles de café.
Santa era uma profissional respeitada e querida pelos colegas, que quando a viam chegar meio esbaforida, perguntavam sempre porque ela não aproveitava a carona do marido. Ela respondia que assim era melhor, pois as crianças não chegariam atrasadas ao colégio, calando-os, pois ninguém tinha mais disposição para argumentar.
Ele deixava às crianças com buzinadas na porta do colégio e seguia para o escritório de advocacia onde era sócio. Passava direto para a sua sala e ligava pedindo à secretária nova para providenciar seu capuccino com torradas. Lia o jornal, enquanto esperava. Quando a moça entrava ele a fazia sentar, pois não gostava de beber ou comer só. Falava do tempo, perguntava pela vida dela, dizia-se entediado, pois não dormira bem. Sua mulher tinha enxaquecas terríveis e ele passava a noite cuidando dela.Coitada, era muito nova, mas há muito não tinha uma vida normal. Uma noite era enxaqueca, na outra estava cansada demais. Uma Santa! Não tinham vida sexual há algum tempo.
A moça escutava entre cética e quase querendo acreditar. Ele era bom nisso. Foi atencioso, desculpou-se por desabafar com ela e pediu reserva daquela conversa.
A moça deixou a sala sentindo-se privilegiada por estar se tornando confidente do seu chefe, um cara tão novo e com uma vida tão chata.
Ele já a olhava com cara de quem preparava um novo jantar. A qualquer hora íria saboreá-lo.
O dia passou rápido para ele graças aos intervalos usados para ligar para a próxima presa com qualquer desculpa. Já começava a ver reciprocidade no olhar.
Em seu trabalho Santa desempenhou suas tarefas como sempre. Conversou com amigos, principalmente com o colega que mais se importava com ela, mas que ela nem percebia que havia algo mais naquele companheirismo.
Chegou em casa correndo para preparar o jantar. Depois que as crianças dormiram foi para o quarto esperar o marido, que reclamou mais uma vez do cansaço.
Fizeram um sexo rápido, sem paixão, ao qual ela correspondeu com tristeza disfarçada. Depois ele a beijou na testa e disse: _”você é minha mulherzinha, nunca irei deixa-la." Virou para o lado e adormeceu pensando na nova secretária.
Santa, ao contrário, não conseguiu dormir, sentia-se ferida, mas ainda não descobrira o porquê.


Evelyne Furtado

sexta-feira, 28 de março de 2008

O Céu por Testemunha.

Fim de tarde
Céu de chumbo,
Cor esquisita!
Gosto do céu azul
E das noites douradas
Sonho com o céu estrelado
E daí?
O mundo não foi feito só para mim.
Hei de suportar cores que não gosto
Como às dores que a mim maltratam
Amadureço aceitando o céu cinzento
Mas sem perder a esperança de rever
O luar em noite de amor
E o brilho de um olhar estrelado
Beijando meus olhos
Que se abrem para recebê-lo
Em doçura, desejo e fervor.

Evelyne Furtado
Publicado no Recanto das Letras em 28/03/2008
Código do texto: T920901

quinta-feira, 27 de março de 2008

Nenhuma dor é maior que o Amor.


Ainda que sintas que o ar vai lhe faltar
Ainda que vejas o mundo com um triste olhar
Ainda que o tiro tenha acertado a capacidade de acreditar.

Deixa doer
Deixa sangrar
Deixa passar.

E acredite anjo meu:

Se nenhum amor é tão grande que não finde,
Nenhuma dor superará o tempo do amor.

O sol a tua face iluminará.
A vida cores novas ganhará.
A alegria ao seu coração retornará.

terça-feira, 25 de março de 2008

VIVER E AMAR.

TEMPO:

TEREI TODO PARA ESQUECER

TODO RESTO PARA VIVER

E AMAR.






Evelyne Furtado
Publicado no Recanto das Letras em 24/03/2008
Código do texto: T914395

segunda-feira, 24 de março de 2008

O Amor e o Luar.



O que é a vida sem o amor a iluminar?
- Um estranho mundo sem luar.

O que se faz quando um amor se vai?
- Espera-se a próxima lua. Em guerra,
ou paz, no firmamento, a lua nunca trai.


Publicado no Recanto das Letras em 22/03/2008
Código do texto: T911693

sexta-feira, 21 de março de 2008

POEMA DO ADEUS.

Juro que vi a luz
Depois que atravessei as trevas
No caminho de volta.

Juro que o ar está mais leve
Depois que tirei todas as lágrimas
Que inundavam o porão.

Juro que foi mais fácil me encantar
Ouvindo você jurar para sempre me amar.
Bem mais fácil do que desencantar.

Como me manter firme
Quando o sonho tão próximo de se realizar
Chega mais perto do fim?

Foi doloroso o desenlace.
Mas não havia mais como manter o sonho vivo.
Foi lindo sonhar com você, por isso demorei a perdoar.

O que era belo em sonho; não era para se realizar.
Não seríamos mais felizes do que fomos.
E eu te compreendi.

Perdoei: voltei a vê-lo como o homem que conheci
Desconstrui o monstro que criei
E assim me libertei.

Sou melhor hoje do que quando você me encontrou.
Você também se aperfeiçoou.
Fomos incríveis juntos.

Só que o fim também estava escrito, meu bem.
Me despeço com poesia, pois foi você quem me inspirou.
Musa e poeta se despedem. Poetisa e muso também.

quinta-feira, 20 de março de 2008

ESFINGE.


Translúcida, assim a mulher se mostra
Todos parecem saber o que ela sente.
Até ela, a mulher.

Enganam-se todos.
Ninguém conhece totalmente uma mulher
Nem ela, a mulher.

Pois a mulher que dorme hoje
Não é a mesma que acorda amanhã.
O sol desperta uma mulher todos os dias
Diferente daquela que ele deixou ao partir.

Esfinge que não se decifra:

A mulher se transforma
A cada amor vivido
A cada coração partido
A cada perdão concedido.

terça-feira, 18 de março de 2008

Piaf - Um Hino ao Amor.


Cresci ouvindo Edith Piaf. Meu pai e minha mãe eram admiradores da cantora. Ouvia e não gostava, confesso. Aquela voz de agudos cortantes não combinava com o que eu ouvia na época.
Todavia, fui me habituando e lembro perfeitamente de ter sido levada pelos meus pais ao espetáculo Bibi canta Piaf, quando tinha uns 19 anos. Digo sempre que Bibi Ferreira me fez respeitar e admirar Piaf.
Com a maturidade, ainda por conta da minha mãe, continuei ouvindo Piaf por quem já nutria admiração.
Hoje assisti a " Piaf - Hino ao Amor". O filme na França recebeu o nome de "La Vie en Rose". Não há diferença, pois ambas as canções são lindas.
A produção é apaixonante principalmente em virtude da interpretação de Marion Cotillard, vencedora do Oscar 2007. Aquela moça bonita que recebeu o prêmio da Academia transfigura-se em Edith Piaf.
Sua atuação faz com que esqueçamos da atriz. Quem está diante de nós é a cantora francesa, criada praticamente nas ruas, baixinha, por isso o nome Piaf (pardal em francês), lutadora, viciada, estrela que virou mito, e principalmente uma mulher apaixonada e de muita fé.
O filme não segue uma linha cronológica direta. A ação vai e volta entre a infância, o fim e o apogeu de Edith Piaf. Entre os muitos amantes que a cantora teve, o filme, que tem o roteiro e a direção de
Olivier Dahan , destacou o seu grande amor Marcel, o pugilista argelino.
Piaf que não conheceu o amor durante a maior parte da sua vida, o encontrou em Marcel e dedicou-se a amá-lo com intensidade, generosidade. Em um momento lindo do filme ela agradece o amor de Marcel à Santa Terezinha, que também a havia curado da cegueira quando criança.
Infelizmente, o grande amor acabou cedo. O avião que levaria Marcel ao encontro de Edith em Nova York caiu e o pequeno Pardal morreu em parte com ele. Em "La Vie en Rose", Piaf canta o seu amor pelo boxeador a quem tanto amou.
O filme exalta a maior cantora francesa de todos os tempos, sem esconder seus vícios, sua origem, seus escândalos.
Piaf viveu apenas 47 anos. Morreu em 1963 e até hoje encanta quem ouve as suas canções.
Edith que dizia não se arrepender de nada gravou em 1961, dois anos antes de morrer, (Non) "Je ne Regrete Rien," que assim diz:

"Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo me é igual!"

"Piaf - Hino ao Amor" mostra-nos que Edith se alimentava do amor e da carreira.
Não se deve perder essa produção. Fui e chorei, como quase todos ao meu lado no cinema. Valeu à pena conhecer e viver todas as emoções na interpretação maravilhosa de Marion Cotillard.

Evelyne Furtado, 16 de março de 2008.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Provocações

Qual o sentido das provocações,
Dos que pisam
Minhas melhores intenções?

domingo, 16 de março de 2008

Ela e o Anjo.

Era noite
E a dor era tão dela
Quanto a noite era bela.

Era noite
E no quarto adentrou a solidão
Enquanto ela fazia uma oração

Era noite
E a angústia roubava o ar
Da mulher que só sabia amar.

Era noite
E só dormir a faria acalmar
Pois, só lhe restava sonhar.

Ainda era noite
Quando o vento afagou a face dela
Então ela viu um anjo na janela.

Ainda era noite
E o anjo em sua língua conversou
Ela o ouviu e discordar não ousou.

A madrugada já chegava
E o anjo ainda a consolava

A solidão se fora
A dor também sumira
Ele lhe mostrara belezas
Que ela não mais exergava.

A ternura angelical
Salvara naquela noite
A mulher que sofria
De solidão terminal.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Saindo de Mim.


Passa um trem e nele embarco
Sem destino certo
Ao acaso
Qualquer lugar
É melhor do que aqui
Quero saír de mim
Vislumbrar outras paisagens
Descobrir o que ainda não conheço
Em mim.

Devo parar na cidade
Onde houver mais flores nas janelas
Onde homens e mulheres se abracem
Onde a mentira não chegue ao segundo quarteirão.
Onde seja lei sorrir com vontade
E loucura seja não ser feliz!
Evelyne Furtado

quinta-feira, 13 de março de 2008

Mar Interior.

Há dias que chovo
Chovo sem parar
Sinto que albergo
Em meu interior, o mar.

terça-feira, 11 de março de 2008

Lili e a Imaginação.

Lili era uma menina doce
Cheia de imaginação
Tinha medo de fantasmas, Sacis, Assombranção...
Enquanto todos dormiam na sua grande casa,
Lili resolveu seu medo da solidão:
Mantinha seus melhores brinquedos sempre à mão.
Criou um amiguinho imaginário, que gostava das madrugadas
e das meninas sonhadoras como Lili.
Juntos eles usavam toda imaginação.
Brincavam até cansar e assim adormeciam.
Ela cá. Ele lá ( no mundo dele).
No café da amanhã a menina alegre
Já pensava em outra noite para brincar.
E assim Lili tornou-se uma mulher criativa
Daquelas que nunca sentem medo de só ficar.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Emergência.


Quando o corpo sente,
A dor já explorou a alma
Da aurora ao poente.

sábado, 8 de março de 2008

Todos os Dias Nasço e Morro Mulher.

Desde que a minha memória alcança
Todos os dias nasço e morro mulher
Penso como mulher
Ajo como mulher
Choro como mulher
Sou mulher todos os dias
E até hoje não tive uma falta sequer
Meu coração é o mais feminino dos meus órgãos
É ele quem direciona o meu querer
Quem toca nas fibras desse coração feminino
Leva o melhor e o pior de mim
Quem o agrada leva o doce
Quem o desagrada nada tira de mim
Ou, ao contrário, provoca uma devastação
Minhas lágrimas chegam a provocar uma inundação
Sou mulher da cabeça aos pés
Não tem dia certo para mim
Como não tem dia certo para qualquer outra mulher.


sexta-feira, 7 de março de 2008

Alma Acesa.


Onde era breu queima uma vela
A moça reza de joelhos
Pedindo luz na alma dela.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Sem Noção


Sem noção, imagino
Tento traduzir emoções
Sem sucesso, sigo-te
Sondando suas razões

Se assim é, melhor não sofrer
Penso em mim com você
Solto a louca imaginação
E sonho bonito para não te perder.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Coração Frágil.


Coração desatinado
Lâmina frágil
Receio quebrá-lo

domingo, 2 de março de 2008

RENASCER

Entro no rio que passa
Deixo-me envolver por sua água
Visto-me do transparente tecido
Mergulho no prazer que me cobre
Banho meu corpo
Consagro a minha alma
Deixo dúvidas, abandonos, mistérios
Nasço outra vez
A mesma mulher, em uma vida nova.

sábado, 1 de março de 2008

Fim e Recomeço


Um ciclo fecha-se em minha vida. O tempo verbal empregado tem motivo. Uma fase de vida não se encerra abruptamente. Passamos por transições e por fatos que simbolizam à mudança. O fim de uma história de amor começa antes do rompimento oficial e continua terminando aos poucos dentro de nós. Cada um leva o tempo que o coração pede. E quem foi mais feliz, por mais incrível que pareça, se refaz mais rápido, pois sofreu menos e preserva quase intacta a esperança de ser novamente feliz.Depois da fase aguda, quando negamos o fim e espinaframos o outro, passamos a analisar e concluímos que foi melhor assim. Porém a dor não cessa com a racionalização. A gente segue, mas ainda sente dor. Um dia já não sentimos tanta falta do outro, apesar das recaídas. Ainda nos entregamos ao sentimento de posse, que é horrível. Passamos, então, a buscar alternativas para levantar a auto-estima. Buscamos novas formas de nos relacionar. Gostamos de conhecer gente nova. Mas, ainda temos um coração pisoteado batendo dolorosamente em nosso peito. Queremos o reconhecimento de que fomos amadas. Queremos uma retratação e paralelamente corremos atrás disso. Somos provocadas pela outra parte, diga-se de passagem e a dor volta. De outro lado outros fatores começam a contribuir para concluir o ciclo. Coisas que fazíamos em comum já não fazemos. Somos apartados fisicamente, mesmo sem querer, de algum lugar onde nos encontrávamos. Queremos ser amadas ou pelo menos mimadas por outra pessoa, que conhecemos e que não tem nada a ver com nosso passado. Normalmente é uma pessoa especial, mas não tem obrigação de nos amar. Temos interesses em comum. Gostamos de estar juntos, porém não é uma continuação do que passou. O outro está vivendo a sua vida e não a nossa.Pode ser alguém de passagem na nossa vida ou pode ficar mais um tempo, o importante é que quando um caminho se fecha, surge outro para percorrermos. Hoje acordei sem raiva, sem despeito, sem mágoa. Aceito o fim, sem depreciar quem está de saída. Respeito-o e ele me respeita. Sonhamos juntos e o sonho acabou.O ciclo se fecha, enfim. Liberto-me para o futuro que já começou. Que sejamos felizes assim.