terça-feira, 31 de março de 2009

Vinha me Inspirando.



Vinha querendo.Vinha sonhando. Vinha enjoando. Vinha pesando. Vinha doendo. Vinha nascendo. Vinha chorando.Vinha clareando. Vinha transformando. Vinha aprendendo. Vinha ensinando. Vinha amando.Vinha engatinhando. Vinha rindo. Vinha andando. Vinha caindo. Vinha levantando. Vinha falando, só Deus entendendo.Vinha do colégio cheia de areia. Vinha com fome de brigadeiro. Vinha fazendo amigos. Vinha brincando. Vinha dançando. Vinha boazinha. Vinha esperneando. Vinha abraçando. Vinha beijando.Vinha estilosa. Vinha opinando. Vinha madrinha. Vinha namorando. Vinha da praia. Vinha branquinha. Vinha em Paris. Vinha em São Paulo. Vinha na aldeia. Vinha de Natal. Vinha do mundo. Vinha navegando.Vinha crescendo. Vinha trabalhando. Vinha malhando. Vinha dormindo. Vinha despertando. Vinha correndo. Vinha no cinema. Vinha sem tempo. Vinha reclamando. Vinha lendo. Vinha em perspectiva projetando.Vinha de frente para a vida . Vinha com cachos, o rosto, rodeando. Vinha tão linda de dentro para fora me adoçando. Vinha mulher, no meu coração, Vinha menina me inspirando.

Para Sylvia Maria Furtado da Costa, minha Vinha.

Evelyne Furtado.
1º de abril de 2009.

domingo, 29 de março de 2009

(des) Ordem.


Arruma gavetas pensando dar ordem as idéias.
Separa as roupas por cores querendo apaziguar o coração.
Faz faxina na casa imaginando purificar o corpo.
Rasga papéis fotos e contas, acreditando livrar-se das pressões.
Banha-se com prazer achando que perfuma a alma.
Agora, sente-se pronta para se perder na confusão.

sábado, 28 de março de 2009

Tela


Claros e escuros
Em minha pele
Tela em convulsão.

domingo, 22 de março de 2009

Amadora.


Se eu cantasse, cantaria baixinho só para você me ouvir. Meu canto seria intimista, sim. Um banquinho, um violão e minha voz dizendo coisas de amor.
Não toco violão, portanto, teria que ser acompanhada. Com minha expressividade gestual, nenhum banquinho aguentaria o tranco.
E o amor, para mim, tão amplo em suas manifestações, não seria contido nessa forma de cantar.
Por isso eu não cantaria como Nara Leão, que gosto tanto de ouvir, e assim, retiro o que disse ao começar.
Se eu pudesse escolher seria Elis atrás da porta, vendo o adeus nos olhos teus e me desfazendo para lhe amar ao avesso ou gritaria para todos ouvirem em voz perfeita o meu nome, como Gal cantou.
Se eu cantasse, cantaria como Ana Carolina e faria do som que vem da minha garganta a interpretação sincera de minhas emoções.
Faria do meu canto a extensão das minhas inseguranças, das minhas dores e da plenitude de amar.
Se eu tivesse aquela herança genética eu cantaria como Nana Caymmi, com toda potência vocal que Deus e seus pais lhe deram.
Bem, se eu cantasse, cantaria com todo sentimento e técnica a dor que é minha e de mais niguém como Marisa Monte faz.
E incluíria o que só recentemente descobri: a exuberância de Maysa contrastando com a intimidade de suas composições.
Uniria, ainda, técnica e espontaneidade e me sentiria Roberta Sá, cantando Fogo e Gasolina.
Para falar a verdade eu não nasci sabendo, nem aprendi, mas canto. E acordo todos os dias cantarolando a música que embalou meus sonhos.
Antes cantava em coro nas rodinhas e quando pediam para eu cantar só, emudecia. Agora, desavergonhadamente canto até de microfone na mão.
Não canto bem, mas interpreto cada letra com tanta intensidade que às vezes esqueço o tamanho de minha voz. Mas, é tão prazeroso que vale à pena a rouquidão que se segue.
Sempre disse que era uma cantora frustrada, mas hoje sei que o melhor de tudo é cantar sem medo de errar e só uma amadora pode cantar assim.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Recuo.


E nos cálculos apressados que fizemos ontem a noite eu perdi as contas e acordei com dez mil anos.
Contrariando o que diz a letra da canção de Raul Seixas e Paulo Coelho não sei muita coisa, não.
No entanto, sinto-me de certa forma cansada do que sei.
Atribuo a fadiga às emoções recentes, bem como às tentativas de entender as voltas da vida.
Mais um recuo de meu mar. Uma pausa para fazer o extrato do que passou. Um momento para projetar.
Logo me recuperarei para viver outros milhares de anos respeitando tudo o que as águas não levaram e nunca levarão.

domingo, 15 de março de 2009

UMA ROSA.


Você me deu uma rosa linda e mais uma vez viu o brilho nos meus olhos. Você vai dizer que não foi bem uma flor que me ofereceu e eu vou teimar como sempre faço. Foi uma rosa, sim.

Eu não me enganaria, pois estava escrito com as quatro letras que a designa e outras tantas palavras confirmando que o presente que você me deu era uma rosa sensível, bela e impermanente. Tal como o amor.

Foi isso que o fez lembrar de mim e que amplia o significado do presente. Você conhece frente e verso de mim.Você sabe até onde sou capaz de ir e diz que eu pareço uma adolescente.

A propósito, pensei muito sobre isso. Lembrei que outras pessoas nos últimos dias duvidaram da minha idade e pasme, fui além da vaidade, questionando minhas atitudes.

Será que sou tão imatura assim? Será que meu comportamento não é adequado à mãe de uma arquiteta que tem a idade que eu tinha quando casei? Não achei as respostas adequadas. Nenhuma delas me convenceu.

Acontece que coração não tem rugas. Essa frase ouvi minha dizer a uma amiga no telefone há algum tempo e hoje faz todo sentido. O meu coração tem cicatrizes, mas aposto que tem menos rugas do que o meu rosto. Talvez seja o motivo de parecer uma adolescente aos seus olhos.

Um coração só envelhece quando perde a capacidade de sonhar e o meu não perdeu. Por isso você me deu uma rosa: eu guardo um sonho bonito e você faz parte dele.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Não Dançar.


O que me incomoda é essa nuvem que paira na ressaca da pujança de ontem.
O que me assombra é a marola que virou onda e essas vozes que alarmam.
O que me embaça é essa dança tonta em que eu perco o passo e caio ao seu olhar.
O que me dói são as almas que sofrem por não se encontrarem para dançar.
O que não aceito é que se perca a esperança e que não se compartilhe o que se tem de graça.

domingo, 8 de março de 2009

Feminina.


Desde que me lembro acordo e durmo mulher. Não vivi um momento sequer sem ser mulher, mesmo quando em menina era um projeto feminino em volta às bonecas.
Filha, irmã e neta mais velha. Namorada, mulher, amante e amiga. Sou mãe realizada e se Deus quiser serei avó derramada.
Meu riso e meu choro são de mulher. Meu olhar e minha fala, também. A escrita, então, nem falo.
Sou mulherzinha e por vezes mulherão. Percorro a vida com suavidade e às vezes me surpreendo com força com a qual venço desafios.
Nunca invejei os homens; os admiro. Nunca me senti inferior; somos diferentes, mas com a mesma importância na condição humana.
O feminino em mim acolhe o masculino em um comovente encontro que merece celebração. Sofro nos desencontros.
A minha caminhada é mais suave do que a de muitas mulheres e tento ser solidária com as que calejam mais para sobreviver.
Confesso que não sei cozinhar, lavar ou passar, mas tenho outras prendas bem femininas: sei perdoar, ouvir, abraçar e ninar.
Não precisei queimar sutiãs , nem mesmo lutar por direitos, mas ainda me restam sequelas da discriminação.
Grito e sussuro. Nunca calo. Não abro mão de viver plenamente como mulher todos os dias da minha vida e agradeço àquelas que abriram espaço para que eu possa assim me expressar.

sábado, 7 de março de 2009

Calendário



Enquanto descarto meses
Com espantosa rapidez
Contemplo dias
Que me duram a eternidade.

quinta-feira, 5 de março de 2009

AO MAR.

Conversa Íntima II.





_ Vá!
_ Não sei se vou!
_ Você quer ir.
_ Querer apenas não resolve.
_ E quem está falando em resolver?
_ Você.
_ Eu, não. Estou falando em viver.
_ E por acaso estou morta?
_ Acha que só porque está respirando está viva? Viver é mais do que isso.
_ Eu sei.
_ Não parece.
_ Por favor, não me inquiete.
_ Ah, se está inquieta está querendo ir.
_ Eu não quero ficar inquieta. Estou bem assim.
_ Parece uma paisagem.
_ Isso é um elogio?
_ Depende. Se ser paisagem lhe agradar...
_ Talvez, sim.
_ Que tédio!
_ O que você chama de tédio eu chamo de paz.
_ Se você ficar nessa paz eu perco minha função.
_ Sinto muito. Aliás, você deveria aproveitar e tirar férias.
_ Enlouqueceu?
_ Não. A louca aqui é você.

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_ Hoje você não parece paisagem.
_ Você de novo?
_ Eu estive aqui durante todo o tempo que você não me viu.
_ Às vezes me envolvo tanto que não distingo sua presença.
_ São nesses momentos em que estou mais presente.
_ Já sabe então que o tédio se foi.
_ Sei e lhe vi vivinha da Silva.
_ Bota vida nisso.
_ Parece que estamos nos entendendo. Mas, a outra ainda lhe enche de "conselhinhos".
_ É a função dela.
_ E lhe provoca conflitos.
_ Estou trabalhando isso.
_ Então, decidiu ir?
_ De certa forma já estou lá.
_ E está gostando?
_ Claro que sim.
_ Então, erga a âncora e se entregue ao mar.
_ Mar ou ar?
_ Fazendo graça. Que bom!
_ Você conhece meu lado afoito. É você quem o rege.
_ Vibro quando você o aceita.
_ Eu também, mas ainda faltam detalhes.
_ Deixa que a outra resolve.
_ Estou deixando.
_ Então, boa noite.
_ Obrigada. Tenho tido noites ótima.
_ Vou indo.
_ Tchau.
_ Ah, me enganei quando falei que você não tinha cara de paisagem hoje.
_ Foi?
_ Sim.Você está com cara de mar. Ora bravio. Ora ressaca. Mas, prefiro assim.

terça-feira, 3 de março de 2009

Na Noite.

Espanto os medos
Acendendo sonhos
.