domingo, 29 de julho de 2007

A Morte da Mulher Fatal.




A expressão anda em desuso, mas já foi muito utilizada. Mulher fatal era aquela que abatia a presa (o homem) a um olhar. Na verdade ela usava mais que o olhar. Vestia-se para matar, de preferência uma roupa preta, decotada, insinuante e tinha todo um jeito manhoso de falar.
O cinema eternizou mulheres fatais. Rita Hayworth, em Gilda pintou e bordou. Gilda ainda é um símbolo da mulher perigosamente sedutora, apesar do filme ser de 1946.
Outro exemplo é Marilyn Monroe, nome artístico de Norma Jean Baker, talvez o maior símbolo sexual feminino contemporâneo. A imagem de Marilyn é muito forte ainda hoje, apesar de ter morrido em 1962, na plenitude dos seus 36 anos. Muitas estrelas que sucederam a linda loura, imitaram alguma de suas poses clássicas, com biquinho sexy e tudo.
Aliás, diga-se de passagem, toda mulher já teve no seu imaginário um dia (ou uma noite) de mulher fatal e todo homem já sonhou ser seduzido por uma.
Atualmente não temos uma celebridade que personalize a mulher fatal. Talvez isso esteja ocorrendo pela rapidez com a qual a estrela do momento é substituída por outra.
Uma segunda alternativa é a de que as atrizes não estejam mais se deixando rotular como símbolo sexual.
As duas causas podem andar juntas, embora eu simpatize mais com a segunda, pois ela liberta a mulher desse papel que a aprisiona.
Na verdade a mulher fatal é uma sedutora e as sedutoras ainda existem, mesmo que não sejam mais pintadas com tintas tão fortes. Todas somos sedutoras, de uma forma ou de outra, mas falo daquelas que fazem da sedução o seu maior trunfo. Trato daquelas mulheres que sempre estão seduzindo. Essas que não se cansam em buscar mais uma vítima, pois é assim que vêem a sua presa. Mulheres que medem o seu valor através de seu poder de sedução.
Vendo com olhos mais apurados observo que a sedutora traz em si uma carência enorme. Um vazio interior sem fim que a leva a multiplicar as conquistas para alimentar sua fome de amor, sem que venham a conquistar um amor de verdade, pois não a amam como ela é, mas como ela se mostra ser.
Quero crer que o símbolo da mulher fatal esteja morrendo para dar vida a uma mulher com interesses maiores. Tomara que estejamos assistindo à transformação da mulher coquete em uma mulher mais profunda e mais feliz, uma vez que o fim da mulher fatal é quase sempre muito triste, haja vista o exemplo de Marilyn Monroe.
Acredito que hoje lidamos com nossas carências de modo mais direto e aparentemente mais difícil. Todavia esse enfrentamento é o caminho para nos libertar dessa saia justa para uma vida mais plena. Melhor deixarmos a mulher fatal apenas em nossas fantasias.

Evelyne Furtado

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Lara e o Anjo.



Lara amava tanto que sua vida variava de acordo com ir e vir do seu coração. Era dessas mulheres que viam o mundo pelas lentes do amor.
Acordava, comia, trabalhava, conversava e sonhava amando. Intensa, sensual e afetuosa, era quando bem amada, dócil e agradável. Mas se brincassem com seus sentimentos, se visse ameaças ao seu relacionamento, ela se transformava numa mulher desconfiada, agressiva e quase histérica.
Essa mudança de humor tinha suas razões para existir. O amor era o motivo mais forte em sua vida. Seu bem mais precioso. Assim, Lara levava a vida se protegendo. Brincando de amar, mas sem se entregar de verdade. Não arriscava perder seu tesouro; a fonte de sua energia.
Houve uma fase na vida, quando se recuperava de uma decepção que ela se sentia desconfortável ao simples olhar de um homem no carro ao lado.
Lara vivia com medo de se machucar, mas também não podia se fechar tanto para vida, pois havia muito afeto, ternura em profusão e intenso desejo adormecido em seu âmago. Trancar-se a qualquer contato, era perder um pouco da vida e o instinto de sobrevivência a alertava.
A saída foi ir se relacionando superficialmente. Deixando-se seduzir, mas sem apostar nas relações. Ela não amava: ela gostava da companhia.O amor estava latente e Lara seguia sem ter coragem de se entregar.Havia momentos de melancolia e até de desesperança.
Não valia à pena viver sem amar, mas o que fazer se a força do amor também poderia destruí-la?
Foi se livrando da dor , vivendo pelas bordas e livrando-se da solidão daqui e dali, até que em uma noite seu Anjo se fez presente e resgatou a vontade de amar. A atração que ele emanava era tanta que ela não reagiu. Confiou nele desde o primeiro contato e em pouco tempo ela não tinha dúvidas de que aquele homem tinha sido enviado por Deus para lhe fazer feliz. Era um anjo; o seu anjo.
De repente, Lara falava “eu te amo” para ele, que até poucos dias ela nem conhecia. Esse feito foi comemorado, pois a frase estava ali, pronta para sair há muito tempo, barrada pelo medo, pela angústia e principalmente pela inexistência de alguém que a merecesse.
Assim Lara renasceu para o amor e para vida. A felicidade se instalou no instante em que ela se sentiu amada. Amava e era amada, isso dava cor nova à vida e tudo passava a ter sentido.
Por isso, ela vira bruxa quando pressente qualquer ameaça ao seu amor. Ele, um Anjo, que a faz vibrar a um toque, um beijo, um olhar, não poderia decepcioná-la, pois ela só vibra assim, de corpo e alma com ele a quem ama e admira.
Lara, pisa em nuvens ou em cacos de vidro, dependendo de como vai a sua relação com seu amor. Lara feliz é uma fada boa. Lara magoada é a bruxa feia e assustadora. Eu só gosto de conviver com a fada, a outra prefiro nem ver.

Evelyne Furtado.
21 de julho de 2007.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Castelos de Areia.



À primeira vista era mais uma mulher passando na rua, seguindo seu caminho como tantas outras.Um certo cuidado na aparência tornava-a atraente, mas não chegava a se destacar.

O semblante um tanto ausente e uma maneira lenta no caminhar revelariam a um observador mais atento, a profundidade dos pensamentos daquela mulher.

Ela não seguia só. Carregava as angústias de um futuro próximo e ilusões do passado, algumas bem próximas outras não. Trazia consigo lembranças de momentos felizes, que emprestavam um leve sorriso ao seu rosto e um brilho travesso no olhar.

Mas nesse dia em especial, sua concentração estava nas expectativas frustradas e nas promessas não cumpridas.Quantos castelos de areia ela havia feito sabendo que o mar não os manteria de pé? É próprio do mar derrubar castelos de areia.

Mas sonhar era a atividade preferida dela e na adolescência os sonhos ainda que desfeitos tinham o futuro como atenuante e não doía tanto vê-los ao chão.

- Quem sabe a vida não surpreenderia com uma realidade melhor?

Assim foi vivendo, abrindo mão de um desejo por outro mais viável, sofrendo um pouquinho aqui e sendo feliz mais à frente.Teve alegrias e realizações, porém a vida, por vezes, mudava totalmente de curso e mostrava seu lado feio.Provocava mudanças drásticas e não havia como saltar do trem, tendo que continuar até a próxima estação.

Ela seguia, mas seguia sonhando, até que ouviu o primeiro alerta da maturidade, avisando-a que era hora de agir e ela agiu, mas não sem se apegar aos sonhos, eles davam força para continuar.

Havia, também, os que a convidava a fantasiar e ela fingia acreditar. Dissimulava tão bem que a fantasia tomava seu coração e quando a realidade despertava-a a dor e a raiva por ter sido co-autora da ilusão, faziam-na chorar.

Hoje as promessas não cumpridas apertavam seu peito.Vivia outro chamado da tal maturidade, seus devaneios agora doíam mais quando se desfaziam.

O futuro não era tão excitante como já fora. Já conhecia a vida, o que a fazia perder um pouco de esperança. - Será que isto é amadurecer? Indagava enquanto sentia um desejo enorme de se proteger no sonho.Seu caminho já não oferecia grandes perspectivas e sua alma escurecia ao constatar essa verdade.

Ela ainda queria mais, muito mais do que se arrastar pela rua fazendo de conta que sabia a onde ia.Queria voar, todavia mal andava com o peso das frustrações acumuladas e pedia baixinho a Deus para voltar a sonhar.

Evelyne Furtado, em 24 de janeiro de 2006

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Perplexidade e Dor.


Junto-me àqueles que mantém a respiração presa ante ao trágico "acidente" com o avião da TAM em São Paulo. Desde ontem, no fim da tarde, a angústia assumiu seu posto, enquanto esperamos notícias na tv.

A aeronave invadiu às nossas casas, numa explosão de ansiedade, de medo, de dor e desespero.

Antes do protesto, que virá com certeza, ofereço minha solidariedade a todos os envolvidos na tragédia do momento. O país chora seus mortos, enquanto o espetáculo dantesco é exibido nas televisões.

No momento, a perplexidade confunde-se com dor. É hora de abraçar os que sofrem, por meio de orações e assim o faço. Que Deus conforte todos os que perderam pessoas amadas nesse desastre terrível.

A Deus o que é de Deus. Aos homens e mulheres brasileiros a obrigação de exigir competência e rigor das autoridades para evitar que a pátria continue ruindo, sem governo e sem pudor.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Mulher à Beira de Um Ataque de Nervos.



No consultório do analista, Carmem choraminga e diz que não agüenta mais sofrer:

- Não sei mais se ele me ama. Há duas noites não durmo, pois não paro de pensar nisso.

- Você poderia descrever o que sente? Pede o analista.

- Sinto o chão se abrir. Como se fosse acabar a alegria na minha vida e não fizesse sentido mais viver.

O profissional a observa. Ela esboça um sorriso tenso, encobrindo a emoção que sente. Uma sombra se instala sobre seus olhos. Ele fala:

- O que a leva a pensar que a vida não terá mais continuidade? Você é perfeitamente capaz de buscar outros caminhos e sabe disso. Já conversamos muito sobre o assunto.

- Eu sei, mas não posso me controlar. O medo vai aos poucos tomando conta de mim. Preciso desse amor, não sei viver sem ele.

- O que mais me impressiona é ver uma mulher tão inteligente se deixar levar assim pelas emoções. Você tem sangue espanhol minha filha?


- Tenho sim, Doutor. Por que o senhor pergunta?

- Nada importante, mas tive a impressão, olhando para você, que estava diante de uma personagem de Almodóvar. Uma mulher à beira de um ataque de nervos e sem nenhum motivo concreto para se encontrar assim.


-O senhor acha que não é um bom motivo ele não gostar mais de mim?

- Não é não, senhora! Deve ter muita gente que gosta de você e por mais que doa, não é por apenas uma pessoa não gostar de você que você deve desistir de viver.

Ela parece refletir. A sombra permanece no seu olhar. Endireita-se na poltrona, olhando para o psicoterapeuta e indaga:

- O senhor nunca sofreu por amor?

O médico, não parece se assustar com a impertinência, mas leva alguns segundos para responder.

- Não estou sendo analisado, mas posso lhe dizer que já sofri, sim, mas não morri. Você está me vendo aqui.

-Ah, mas eu sou diferente. Disse Carmem, parecendo uma menina mimada.

-Claro que você é diferente, porém tem tanta força como eu. Encontrará uma maneira de lidar com a situação. Eu lhe asseguro.


Ela deixa as lágrimas correrem por seu rosto. Sente-se uma menina abandonada e imagina o esforço que fará para superar mais uma perda.

O terapeuta olha-a e diz que é importante encarar essa possibilidade, mas que tudo pode ser fantasia dela. Ele não enxerga com muita clareza as causa que a levaram a acreditar que o namorado não mais gosta dela. Enquanto o ouve o rosto dela vai se iluminando aos poucos:

- O senhor acha mesmo?

- Acho sim. Espere e não seja tão ansiosa. Pode não ser nada disso.


Agora os olhos de Carmem já brilham de alívio. O sorriso ilumina seu rosto. Pensa que o analista pode ter razão.

O tempo acabou, antes que o terapeuta pudesse dizer que não tinha certeza de nada. Que tudo poderia acontecer. Ele ainda tentou, mas a cliente decidida já se despedia.

Ela sai do edifício com a alma leve e uma expressão inegável de alegria no modo como se dirigia ao seu carro no estacionamento. Dera uma pausa no sofrimento.Ufa!


Evelyne Furtado, 08 de julho de 2007.

domingo, 8 de julho de 2007

Minha Poesia.



Admiro a poesia etérea
Dos que falam de natureza
Dos sentimentos mais belos
Dos que voam alto

Vôo baixo
E falo do que conheço,
Do que está perto de mim
Mostro o que conheço; o que sinto.

E o que me comove
É simples e singelo
Como o amor, a vida
A tarde, o mar
...um ipê amarelo.

Tiê- Evelyne Furtado em 08/09/05

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Final Feliz.




Hoje li um texto especial. Uma bela página de uma história de amor. Um corte na vida de dois personagens que se amam, num momento de desentendimento.Estavam à beira do caos e o último ato já havia sido ensaiado e sofrido por antecipação.

O autor se esmerou em detalhes. Os conflitos foram descritos com precisão. As emoções também, se é que se pode precisar emoções.O fato é que meus sentimentos afloraram ao passar os olhos pelas palavras. Ah, doeu sim ver um grande amor prestes a cair no precipício.

Ele razão. Ela emoção. Eu torcendo por um final feliz."Dê uma chance, a ela". Eu pedia como se o escritor pudesse reverter sua história para me atender.

A narrativa continuava com o protagonista insistindo em preservar o passado vivido, o respeito, a dignidade.Ela concordava com ele nesses aspectos, mas era mais emotiva.
A tensão, a dor e o medo saltavam do texto. Os diálogos denotavam ansiedade e eu em suspense, mergulhada naquelas linhas.

Chorei a dor da protagonista, como se doesse aqui em mim. Assumi os argumentos dela, como se meus fossem. Desconfiei do amor dele e me revoltei.

Em outro parágrafo, percebi uma nesga de luz. Vi que o autor parecia se inclinar pelo entendimento e ganhei ânimo.De novo intervi: “deixe-a mostrar que o ama".

O autor pareceu me ouvir. E mudou o tom. Logo em seguida a mocinha pergunta se ele ainda a ama. Diz que insistirá se ele a amar, mas que o deixará ir se ele não mais sentir amor por ela.

Ele parece relutar em responder. Eu, leitora, prendo a respiração, tal qual a personagem lá no conto. Ele tenta desconversar. Ela o manda seguir. Ele, tenta se manter firme, diz que não importa o que sente, diante do impasse que estão vivendo. Não pretende prolongar aquela agonia.

Ela o olha e pergunta se deve jogar a toalha. Diz que vai deixá-lo ir. Ele sugere conversarem mais. Procuram um lugar mais calmo. Seguem ainda tensos no caminho.
Ao chegarem. Ela salta do carro e ele a segue. Dão alguns passos e ela sente o corpo do homem amado bem junto ao seu, mesmo que não o esteja vendo, pois ele está atrás dela. O calor daquele corpo aquece o seu. Seu coração dispara.

De repente, ela sente a boca do seu homem em sua nuca. Ele a abraça por trás. Ficam assim, imóveis, por um tempo indefinido. Ela se volta para ele. Olham-se e o amor é sentindo sem disfarces. Beijam-se apaixonadamente. Pronunciam juntos a mesma frase: eu te amo. Beijam-se novamente. Rendem-se a um sentimento mais forte que os dois e juram lutar por esse amor.

Eu terminei a leitura com um sorriso nos lábios. Aquele conto me fez um bem enorme.Adoro finais felizes.Fechei o livro. Adormeci e sonhei com um amor igual àquele criado pelo contista.