Eram dez passos contados entre ela e a porta. Dez passos para libertação e uma força monumental paralisando-a.
Berggasse, 19. O endereço que a perseguia em sonhos há meses. Fixação e motor de seus atos nos últimos dias.
A noite caía e seus ossos tremiam. Fazia muito frio naquele outono. Era Outubro em Viena, no começo do século XX.
A mulher no passeio encolhia-se. Chegara a seu destino, mas não reunia coragem para entrar. Não sabia como se portar. Não fazia parte daquele tempo, daquele grupo, nem daquela gente que a fascinava.
Não se tem notícia de quanto tempo durou o impasse. Ninguém contou. Mas há quem lembre da mulher a dez passos de desvendar seus sonhos.
Não se sabe se chegou a entrar. Nunca mais a viram por lá. Não sabem, também, que no século seguinte, uma mulher protege-se do sol, em uma cidade tropical e coleciona sonhos em um envelope onde se lê Berggasse, 19, em caligrafia grande e caprichada.
5 comentários:
Adorei esta breve incursão na narrativa.
Que bom! Obrigada e beijos, Pedro.
Pequeno texto, mas preciso como tinha de ser.
Simplesmente fantástico. Muito bom, ler-te. Beijos
Obrigada, Louize e Dolce! Gosto desse pequeno texto. Beijão
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