sábado, 11 de setembro de 2010
Múltipla.
Utilizo-me de múltiplas narradoras quando escrevo. Valho-me da menina assombrada diante do mundo e da mesma menina de riso solto e pernas desgovernadas descendo o morro em Ponta Negra.
Lanço mão da adolescente deslumbrada ante as possibilidades e ao mesmo tempo tímida perante as mesmas possibilidades.
Sou órfã de pai no desamparo e protetora da filha única que tanto protege quanto é protegida.
Uso a mulher apaixonada tão enfaticamente como uso a mulher desiludida. Meu texto chora, ri, canta e dança conforme a sintonia.
Visto-me de dama sofisticada e dispo-me em meio a pedaços de vaso quebrado. Sou uma e sou outra.
É nítida a leitora entusiasmada em meus textos. Sopra-me ao ouvido o último autor que me encantou. Ando como Cora Coralina pelas ruas de Goiás Velho, consciente de que apenas a imito.
De cara para o vento de setembro em Natal ouço uma sonata de Bach e abrigo da ventania as páginas de um livro no qual me resguardo da tarde.
A música me transporta para outro tempo, onde sou outra pessoa, vivo outra vida, pois sou, também, aquelas que não fui.
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Um comentário:
E talvez por ser múltipla, ainda mais humanizada. Belíssimo! Bjs
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