domingo, 1 de agosto de 2010

Passo Doble.

Ele aparece do nada e você que não é toureira encontra-se desprevenida. Não dá tempo para correr? Então use a capa que tiver à mão ou ao corpo e enfrente o touro.
O vestido vermelho lhe servirá de capa. Um frio lhe subirá pela espinha. Seu estômago dará cambalhotas. A boca ficará seca. E a cabeça rodará como se você estivesse de porre.
Se quiser desistir posso voltar. Tentarei escrever outra coisa. Mas o touro aproxima-se. Não dá mais correr.
A sensação é de irrealidade, mas o touro é de verdade. Ainda poderá usar a capa vermelha, mas com a sua falta de habilidade os chifres do touro vão fazer dela uma manchinha vermelha voando por ai.
Você talvez não resista a uma performance, então esboce uns floreios, mas vá se preparando para ficar mais indefesa a partir de então.
O touro e você na arena. Adrenalinda, cortisol e mais hormônios que não me cabe agora elencar. Pegue-o o à unha e vá. Será uma experiência importante. De tão impactante lhe dará, ao final, a impressão de que você não saberá mais andar. Você sentirá, mas não saberá dizer o que sente. Desejará sobreviver e como quem está escrevendo sou eu, garanto que conseguirá.
A salvo você ainda se sentirá meio tonta. Algumas verdades serão desfeitas; suas crenças serão abaladas, seus limites estarão bem visíveis.
O touro foi pego à unha e você sobreviveu às suas arremetidas. Seu mundo mudou de eixo, mas ainda está em movimento. Ficarão pedaços de touro embaixo da unha, como a lembrar de que não foi sonho. O vestido, que foi capa, será substituído. A vida continuará, porém não como antes. Essa dança lhe deixará marcas que lhe ajudarão a continuar.

Um comentário:

Déborah Simões disse...

Lindo, lindo..
Você escreve tão bem..
A gente imagina tudo...
BJok