sábado, 15 de dezembro de 2007

Saudade Congênita

No consultório médico Livy aguardava o diagnóstico. Só podia ser algo muito grave. Não conhecia ninguém com aqueles sintomas. Tentara tudo antes de chegar àquele especialista e havia cumprido todas as recomendações. A princípio sentia-se melhor, mas a qualquer momento voltava a sentir o aperto no peito, a falta de ar e as dores que se espalhavam por todo seu corpo, até que ela começava a chorar. O choro vinha aos poucos. Duas lágrimas mornas escorriam nos cantos dos olhos escuros, pouco depois, o choro, ia num crescendo que logo Livy estava a soluçar. Às vezes o pranto era tão sentido e prolongado que parecia se eternizar. Claro que as lágrimas, na maioria das vezes, a aliviavam, mas em outras não lhe traziam esse conforto.
Enfim, o médico a olhava de frente e Livy reunia forças para escutá-lo: “Livy, você tem uma doença congênita". Até aí nada de novo, pois sua mãe dizia que ele era chorona quando bebê. Livy, indaga se o mal é grave? O médico diz que não mata, mas faz sofrer.Complementa que a cura é difícil. Livy pergunta qual o nome de sua doença. Ele a olha com ternura e diz; “ Tens um pequeno problema no coração. Trata-se de” saudade congênita “. " Nasceste com um gen que a torna saudosa dos momentos de amor e ternura, sempre que aquele que a faz feliz afasta-se de ti, teu coração reduz o ritmo dos batimentos e reages como se lhe tirassem um pouco de vida”. Livy assimilou o diagnóstico e quis saber o prognóstico. “Livy, precisas aprender a conviver com isso. É um aprendizado difícil, mas conseguirás". “E se eu evitar o amor, Doutor?" Quis saber Livy.
“Não recomendo. Você é uma mulher amável e tem lá seus momentos de felicidade. Ao fechar-te, tornar-te-as amarga". E continuou; “Viva seus amores e abra-se para a alegria. Isso ajudará a viver melhor”. Livy agradece ao médico e sai do consultório, disposta a buscar alegria, pois não deixará de amar. Conviverá com a "saudade congênita" até que ela não a maltrate mais tanto assim.

Evelyne Furtado

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