Pois bem, eu lia Proust e me despedia de
novembro. O livro em questão traz na folha de rosto a data em que o comprei:
10.12.1984.
A memória resgata a frustração que senti frente
ao discurso do escritor francês. Uma pontada no orgulho da leitora voraz que eu
era.
Aí já expresso o motivo da dificuldade. Proust não é leitura para
ansiosos. Não é prato para glutões. Muito menos para uma jovem recém-casada,
entrando na casa dos vinte anos, estudante de direito e trabalhando dois
expedientes.
Para ser honesta, o casamento recente, o trabalho
e a faculdade de direito são desculpas esfarrapadas. Na verdade a minha alma
alvoroçada e a imaturidade eram os reais impedimentos.
Proust requer paciência, método e muita
sensibilidade. O leitor que deseja ação perde-se nas descrições e nas vírgulas
do mestre estilístico.
Proust também exige compreensão das diferenças de
classe sociais tão bem detalhadas nas suas narrativas e coragem para
mergulhar no mar revolto do inconsciente.
O francês tece com delicadeza e
precisão forma e conteúdo. Vai das firulas do trato social às
profundezas da alma com a mesma precisão.
Bem, eu dizia que lia Proust na madrugada. Hoje
me confesso mais paciente e madura. Em meio aos textos acadêmicos que sou
obrigada a ler - agora cursando Psicologia- procuro tempo para degustar pelo
menos uma página de Proust por dia.
Continua não sendo fácil. Não é o meu escritor
preferido. Não sou a ideal leitora de Proust. Permaneço inquieta, ainda, mas
vou além das Madeleines e sou tomada por trechos que me tiram o fôlego de tanta
beleza. Sou afetada pela luz de Paris e pela surpresa do tempo que volta
resgatando o que imaginamos perdido.
Lia Proust na madrugada na qual
dezembro começou. Não sei se lerei outros volumes de Em Busca do Tempo Perdido.
Corro para viver o tempo presente, com um pouco mais de calma, como requer
Proust e os melhores nacos da vida, mas retorno aos quinze anos onde olhos de dezenove me esperam no portão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário