Se um calendário tivesse sabor, teria janeiro gosto de manga, água de coco, siriguela. Poderia até ter paladar de caju, sem ranço, pois desses cansei há tempos. 
O primeiro mês é promessa de um ano inteiro e traz consigo calor em demasia, conversa mole, rede na varanda e maresia. 
Traz, também, lembranças de outros janeiros mais leves ou mais densos e, para meu sossego, lembro agora dos primeiros. 
Coisa mais viva é o azul de janeiro. Alargando as pupilas para abraçá-lo inteiro  resvalo em um mar de cor tão linda quanto indefinida. 
Abraço é mergulho que envolve, aquece e alivia. Em certas ocasiões, também, para meu alívio, as ondas, o corpo esfria. 
Em janeiro mudo de idade.  Ora envelheço; ora sou menina  e desço morros, subo em mangueiras, suo e sonho como tal. Tenho entre quinze e dezesseis, às vezes.  Em outras me assusto por não mais tê-los. Na maioria dos dias assim ondeio.
 
Janeiro por aqui é tão colorido quanto pode ser um calendário. São tantas as cores e os matizes já cantados como são muitos os sabores degustados, que decidi por tornar céu, mar e dunas sagrados. 
Profanos  são o amarelo, o vermelho e o verde da Feirinha de Pium  que por segundos  roubam a cena de paisagens deslumbrantes entre o mar e o mar, pois  janeiro é fruta doce em boca de criança. Um tanto de saudade e outro tanto de esperança.

 
