segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sara.



Era boa, Sara, a que a ninguém faltava. Sempre pronta para o acolhimento, a conciliação, o abraço.
Ouvia sempre os que suas angustias lhe falava. Respondia com cuidadoso afago.
Andava pela vida com receio de pisar pé desavisado. Em muitas ocasiões não dava um passo.
Tinha espírito independente, contudo, e ímpeto para crescer, pronunciando-se sobre tudo o que a afligia.
Deu-se o colapso quando percebeu que sua opinião incomodava, suas paixões assombravam, sua ética insultava, seu "não" desagradava e suas verdades eram questionáveis.
Deitou-se em silêncio: Não mais falava, não mais cumprimentava, não mais sorria, não mais abraçava, nem mesmo chorava.
Despertou ao compreender que a vida também acontece quando sua fala esbarra em outras falas, embora seja mais prazeroso viver nas vezes em que o encontro de vozes ocorre. Entendeu que o não e o sim podem conviver e que as verdades dão lugar a outras verdades.
Acredita que as paixões são para os fortes e conclui que continua sendo boa, enquanto toma um café e espera para ver o que fundo da xícara lhe reserva.

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