segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Uma Flor.


É apenas uma flor o que agora posso lhe oferecer.
Atravessou intempéries a minha flor.
Haja vista esse tempo louco:
Ora vento excesso;
Ora sol em demasia.
Ora encolhe, ora amarela
A flor que é bela
Mas não amarela.
Nunca sei como amanhecerá
Pois veste rosa e veste lilás.
Veste azul, às vezes, e se chama nuvem, quando assim.
Ela é verde quando é sorte que lhe quer oferecer.
No momento são rubras as faces da flor
Que na verdade quer ser branca
Pois branca é a cor da paz, que venho regando.
Esqueci-a por uns tempos
Tomei um susto ao ver suas folhas esmorecendo.
Voltei aos cuidados, pois não quero que morra
A minha flor, sem que cumpra seu destino de paz.

sábado, 23 de outubro de 2010

Alento.


O que me salva são os Ipês vencendo os muros
E a areia morna do fim de tarde na praia
Onde o mar rega a minha alma.
Sou salva pela companhia de filha nessa tarde
E pela volta com a lua nos acompanhando.
Salva-me receber o sono aos pouquinhos
Para sonhar mais um tantinho.

sábado, 16 de outubro de 2010

Alice.



Provocam risos, os tropeços de Alice, que aumenta o irreal e se assombra com fatos, pois caminha em nuvens e abraça pedras arranhando joelhos e alma.
Riem de sua credulidade. Ignoram que para Alice crer é viver. Desconhecem, também, que cresce Alice em cada queda.
Cresce ao reconhecer que se faz cega ao que não quer ver.
Há de frear vasta imaginação; de acurar a percepção.
No azul crescente do céu de outubro, Alice franze o cenho para enxergar a outra margem. Respira profundamente. Vai só e faz da coragem passarela.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Passarola.



Tua luz, a minha fé, escurecendo
Tua verdade, minha alma, desfazendo
Tua genialidade a serviço do meu cansaço
Mas onde escreves razão
Leio bondade
E tomo de tua passarola
Para voar os meus milagres.


Para Saramago.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Esperança.


No começo da madrugada, o deserto pariu uma flor.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Continho.


Desceu, Alice, a ribanceira às cegas: Olhos vendados, frio na barriga e escoriações que lhe doeram muito além da pele.
Acordou de súbito de sonho pesado. Revirou na cama e nas idéias de Freud. Salva foi por raízes de afeto. Repousou em leito de versos. Adoçou como pôde o remédio. Confortou-se na luz beirando a janela.
Hoje segue pé ante pé rente à calçada e lembra dia sim, dia não, com saudade, das nuvens que lhe substituíam o chão.