quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Regresso


Ontem ouvi o chamado do mar e hoje atendi. Aniversário de meu tio no edifício onde antes foi casa de veraneio dos meus avós e a primeira casa que conheci. Explico: saí do hospital onde nasci para a casa de Areia Preta, praia de veraneio naquela época, atualmente praia urbana e um dos metros quadrados mais valorizados de Natal. Aquele é o meu mar. O mar onde a menina já grandinha subia no parapeito do grande terraço para olhar os navios ou se perder no horizonte. Dirão que não é o mesmo mar. Também não sou a mesma menina. Mas em um ponto nos encontramos. No meu íntimo aquele lugar e eu estamos ligados desde que nasci. È naquele mar que deságuo quando a alma transborda. Meus olhos reconhecem aquele verde espelhado, que por sua vez reflete um coração frágil Escrevi o poema de ontem , sem associá-lo ao convite da festa do tio querido. Fui a uma festa de família e só depois de beijos, abraços e muito papo, senti mais forte o chamado. Fui a um lugar mais isolado e fiquei a sós com o mar. Não pensei em nada, mas senti. Não sei se foi a beleza tão comum aos meus olhos, mas que ainda me encanta sem explicação ou se foi um contato mais próximo e silencioso comigo mesma. A partir de então deu-se o contrário e quis voltar para a minha casa. Lugar onde moro hoje, a poucos minutos do mar, porém longe o suficiente para me proteger da dor causada por algo que me falta hoje e pela incômoda sensação de não estar sendo leal a mim mesma, na tentativa de me adaptar a uma nova maneira de viver contrária à minha natureza sincera e espontânea. Mais um passo dado no sentido do amadurecimento ou o velho medo de crescer? Só o tempo dirá.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Chamado do Mar.


Ouço o barulho do mar
Chamando as lembranças da menina
Que a cada mergulho
Sentia a mulher aflorar.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008


Porque viver também é bom
Mantenho o sonho no cabresto.
Solto, a cavalgar sem freios,
Quem corre riscos sou eu,
Posso cair do sonho
E novamente chorar.
Durmo hoje com o corpo em paz
E a alma sem vagar.
Já os sonhos que a noite trará,
Estes não posso controlar.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

No Exercício do Amor




Em cada parte de meu ser
Tenho a pele marcada por sensações
Exalo em cada poro um querer
Mulher, sou de alma atrevida,
Quando exercito o amor.

Sob a aparência tímida
Sou fêmea em pleno ardor
Mas se queimo, conforto,
A mim e a quem me dá amor.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Sem Razão.


Não há razão nesse querer
Invadido pela emoção
Ferindo-me em todo ser.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Promessa de Alegria

Danço de rosto colado com o passado
Ritual que aprendi um dia
Em passos que íam e vinham
Quando a minha única certeza era ser tua
E o futuro era promessa de alegria.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A Um Toque




Como um corpo sólido,
Pode encobrir uma alma frágil
Sensível e tensa,
Como uma corda (de instrumento) estendida?

Qualquer toque atinge a nota
Que chega aos nervos,
Fazendo trêmulas as carnes.
Fazendo o coração descompassar,
Em loucas arritimias.

Mas se pende, não cai.
Como um ramo flexível,
Ergue-se, recompõem-se,
Retorna ao estado normal.

Aprendendo com a natureza,
Ser este seu fluxo natural.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Mulheres em Crise.


Uma mulher em crise é algo absolutamente natural. A sensibilidade é mais comum ao sexo feminino e a vida um pouco mais difícil. Meu discurso não é feminista. Devemos ao movimento feminista muitas conquistas, mas não tenho muita familiaridade com o assunto para discuti-lo agora.
Nunca me senti inferior ao homem, em nenhum aspecto. O que vejo é que fomos submetidas historicamente ao poder masculino e há muito pouco tempo chegamos aos direitos iguais, garantidos constitucionalmente. Aqui no Brasil, por exemplo, só a partir da Constituição de 1988.
No entanto, nós mulheres, ainda lidamos com os resíduos culturais sexistas. Por isso conheço muitas mulheres em crise. Junte-se a sensibilidade, o romantismo e as alterações hormonais ao cotidiano de uma mulher que tem uma carreira, precisa de um salário para se sustentar e ainda quer amar e ter filhos.
Algumas de nós trabalham um dia inteiro fora de casa e ainda acordam de madrugada para preparar a comida do marido e dos filhos. Mesmo quando independentes economicamente, não temos a mesma liberdade masculina. Somos olhadas com desconfiança quando ousamos. Assustamos quando nos posicionamos em pé de igualdade com os homens.
Atualmente vivemos um período de acomodação nos relacionamentos entre mulheres e homens. Avançamos, mas queremos amar. Desejamos sexo, mas com respeito e afeto, além do tesão. Trabalhamos, dividimos contas, mas queremos mimo (e retribuímos). Não queremos competir com parceiros. A competição não cabe em uma relação amorosa.
Devo ressaltar que não está sendo fácil para a ala masculina. Muitos estão esforçando-se para se adaptar à nova mulher que difere da mãe, mesmo aquelas mais modernas. O modelo padrão , para uma geração de homens entre 30 e 50 anos, é da mãe submissa e do pai chefe de família.
E ainda temos um agravante: há falta de homens no mercado e essa diferença em números, gera uma disputa absolutamente desagradável entre as mulheres, enquanto permite aos homens uma escolha farta.
Ainda assim, estamos na luta. Enfrentamos a tal crise com lágrimas, mas também com humor. Amor temos em sobra. Sem falar que toda crise permite um crescimento. Acharemos uma forma saudável de conviver com esses inconvenientes. Tomara que não demore muito.

Evelyne Furtado, em 19 de fevereiro de 2007.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Mais um Sonho Bom.



Pronta para dormir
Aguardo-te no sonho
Onde chegas a sorrir.

A ATRIZ

Descem as cortinas
Sai de cena, a atriz.
Deixa as falas e as emoções das personagens
Leva o prazer de contracenar.
Ao som dos aplausos sai em êxtase
Esconde uma lágrima entre as flores
Pensa no espetáculo da próxima noite.
Seu olhar, porém, não esconde as próprias dores.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Espelho e a Mulher.



No espelho, a verdade
Revela uma das faces
Entre as múltiplas possibilidades
Da mulher refletida.
Parceiro essencial às vaidades
O espelho reflete com fidelidade a superfície.
O rico interior; o infinito renascer de sentimentos
da mulher que o mira, escapa-lhe, contudo, à sua rasa luz.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Das Perdas e Ganhos de Quem é Amor da Cabeça aos Pés.

Desde que nascemos passamos por perdas. Perdemos o aconchego do útero. Perdemos a proteção materna. Nós meninas vivemos o Complexo de Electra e os meninos os transtornos edipianos, segundo Freud. São as perdas necessárias, discutidas de forma competente e bela pela psicanalista Judith Viorst.

Sempre tive medo de perder, principalmente as pessoas que amo. Quando criança meu terror maior era a morte dos meus pais. E meu pai nos deixou quando eu tinha 25 anos. Nem preciso dizer que a dor foi lacerante, mas hoje eu o trago em mim.

Sofri um processo doloroso de separação 10 anos após. Perdi não só o marido, mas o namorado de adolescência e todas as idealizações românticas construídas durantes anos. Passei, então, a ter horror a perder o carinho de alguém.

Temia tanto a realidade que quando esta se tornava impossível de não ser vista, meu mundo perdia a cor. Sentia-me traída, usada, amputada no que eu tinha de melhor: a afetuosidade e a lealdade.

Porém, esse relato depressivo tem o sentido de mostrar que reagi e sobrevivi a todas essas perdas. Atravessei surtos de ansiedades, compulsão alimentar, chorei cachoeiras, vi minha auto-estima nos pés e meus sonhos viraram pó.

Pois bem, caí e levantei algumas vezes. Não sem raiva, não sem mágoa, não sem constrangimentos, não sem dor. Busquei e tive apoio, além da ajuda especializada.

Mas o melhor disso tudo é que todas as perdas vividas trouxeram-me um ganho em seu bojo. Só não vejo bem o que ganhei com a morte do meu pai.Quanto às demais sei exatamente o que ganhei.

Com o fim do casamento veio o amadurecimento, uma maior comprennsão da vida, experiência e, por mais incrível que possa parecer, harmonia familiar, pois criamos, eu e meu ex-marido, uma filha saudável, responsável, amada e feliz.

Perdi outros afetos. Perdi lindos sonhos de amor. Bebi ilusão e vivi disso por muito tempo. Amei muito e igualmente sofri.

Rompimentos amorosos me deprimem. O medo da solidão me paralisa. Porém saber que posso sobreviver à perda do parceiro idealizado por mim, reforça a minha fé na vida.

Eu poderia dizer que virei mulher e deixei de ser menina, mas o processo ainda não terminou. Continuo amadurecendo.Às vezes sou um mulherão, em outras uma menina mimada.

E o melhor de tudo: começo a perceber claramente que ao me relacionar com o outro passo a me conhecer melhor. Sei mais hoje sobre os meus limites, do que sabia antes. Sei até onde posso fazer concessões. Não me envergonho de chorar por amor, porém discordo com convicção quando a proposta vai além da minha vontade.

A solidão me ronda, mas não me assusta como antes. Vou juntar tudo de bom que vivi. Lembrar de cada "eu te amo" que ouvi e que falei (adoro falar), de cada beijo, de cada encontro, de cada olhar, de cada vez que vibrei de prazer e de paixão.

No mais, continuarei romântica e tenho certeza de que como toda mulher “mereço rosas, rosas, rosas...", como canta Ana Carolina, pois ainda "sou amor da cabeça aos pés".

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Desço aqui
(Por você) fui muito longe
Não irei além de mim.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

LUX !



A luz
ilumina,
clareia e
revela:
o feio e o belo.

A lucidez
ofusca,
assusta
e floresce:
o que sou
e o que quero.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Da PAIXÃO e do AMOR

A paixão requer alvoroço
Na mente e no corpo
Pensamentos em confusão
Pele e nervos em curto-circuito
Tem por guia a pura emoção
Há risos sem nenhum motivo
E o pranto provoca inundação.
Saudade é penitência.
Ciúme é surra de açoite
Sangrando a carne a cada provocação.

O amor requer candura
Terna atenção ao amado
Que é cúmplice na cama e na reza.
Pois os amantes só almejam
O Sol para iluminar seus dias
E a Lua para adornar seus corações.
O amor não provoca dor
O amor só vive de amor.
Quem ama não abandona.
Quem ama arde, goza e acolhe.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Déjà Vu.

A noite já prepara os sonhos
Levo para cama as boas lembranças
Deixo fora os maus pensamentos
Só deita comigo quem amo
Os outros afasto para longe.
Repito noite-à-noite o ritual
Nesse déjà vu habitual

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Vem me Calar.



Vem que eu te recebo
Com o melhor tinto
E entre um sorriso e outro
O vinho me leva a falar...
Mas tem jeito de me calar:
Quem sabe um passeio de mãos dadas,
Ou você me ensina a dançar?
Melhor que isso?
Só beijar...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

MEU CANTO.

A dor ecoa.
Em meu solo,
Canto à toa.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Amor no Bolso da Alma.


Rafael ama intensamente uma mulher. Para ele o amor aconteceu na maturidade, quando conheceu Amanda. Até então ele não amara de verdade. Ela correspondeu de imediato ao amor daquele homem doce e gentil, porém demorou a acreditar na felicidade.
Não seria um amor fácil. Teriam obstáculos: moravam em cidades distantes, onde trabalhavam e faziam pós-graduação.
No entanto, ele a convenceu, movido pela certeza da paixão, de que venceriam tudo. Amanda entregou-se à louca aventura do amor de Rafael e se perdeu na ilusão daquele amor.
Porém vieram os espinhos e a fizeram chorar. Ele secou cada lágrima de Amanda com rosas, versos e promessas. O tempo passou. Amanda tinha urgência e reclamava a presença do amado, cada vez mais. Ele a consolava dizendo que também sofria com a distancia, mas que a lembrança dos momentos felizes o confortava.
Com ela não aconteceu assim. Amanda foi murchando. Perdeu a confiança e o rumo. Então, deu-se o rompimento e ela quase surtou de dor.
Hoje se sabe que houve amor, sim. Mas em níveis diferentes. Amanda queria a convivência com Rafael.Ele estranhamente não tinha essa urgência. Dizia que já a amava antes de conhecê-la e que a amaria para o resto da vida.
Ela não vira, mas, no auge da paixão Rafael pegara uma boa porção daquele amor e colocara num bolso de sua alma. Se a tinha na alma, não precisava da presença dela para continuar amando-a. Talvez isso explique a felicidade constante de Rafael em contraste com a tristeza que rodeou Amanda por um longo tempo.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Outra Vez.




Faço-me cinzas na quarta
Quando recolho garras e lágrimas
Resguardo-me em uma taça
Onde reflito, repouso e aguardo.
Bebo-me, como se vinho fosse.
Renasço outra vez:
Mulher inteira.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Começou o Carnaval.

Sexta-feira gorda. Já é Carnaval e o blog fará uma pausa. A partir de amanhã estarei fora de Natal. Não necessariamente para cair na folia, mas para uma necessária mudança de ares. Amo o Carnaval, brincando ou não. Carnaval tem um amplo significado para mim. Vai além da sensualidade e da euforia contagiante. Carnaval também é lirismo, beleza, confraternização e fantasia. Estou fora do mela-mela, da confusão e do coma alcoólico (rs). Recolho-me esse ano, mas nada me impede de dar meus pulinhos.
Entre as letras lindas de músicas que se referem ao carnaval reencontrei O Cordão de Chico Buarque. Que fique o lirismo e a força dessa letra maravilhosa no Perfil de Mulher.

Cordão

Ninguém
Ninguém vai me segurar
Ninguém há de me fechar
As portas do coração
Ninguém
Ninguém vai me sujeitar
A trancar no peito a minha paixão

Eu não
Eu não vou desesperar
Eu não vou renunciar
Fugir
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir

Ninguém
Ninguém vai me ver sofrer
Ninguém vai me surpreender
Na noite da solidão
Pois quem
Tiver nada pra perder
Vai formar comigo o imenso cordão

E então
Quero ver o vendaval
Quero ver o carnaval
Sair
Ninguém
Ninguém vai me acorrentar
Enquanto eu puder cantar
Enquanto eu puder sorrir
Enquanto eu puder cantar
Alguém vai ter que me ouvir

Enquanto eu puder...